Assinalaram-se, no passado dia 10 de dezembro, os 200 anos da sagração da Capela de Nossa Senhora do Refúgio. Ainda que as circunstâncias da sua fundação sejam relatadas com alguma frequência, na forma de lenda, pouco se tem investigado sobre a vida e obra do seu fundador, Joaquim António Clementino Maciel. Este terá vindo para a Covilhã, para servir no posto de tenente, no Regimento de Milícias da Covilhã, então criado por alvará de 21 de outubro de 1807. Maciel foi, em 27 de janeiro de 1810, promovido a Capitão da 3ª Companhia do mesmo regimento. Era filho de Joaquim José Gregório Maciel e Maria Josefa Caetana. Em 1815, efetua um pedido para obter brasão de armas e, em 1818, surge como um dos subscritores da oferta da obra “Gabinete Histórico” a D. João VI. Dois anos depois, em 1820, traduz e publica a “História da Conquista do México, com a Notícia do Descobrimento, Povoação, e Progressos da América Septentrional conhecida por Nova-Hespanha”. No ano de 1821, o Diário do Governo, de 21 de maio, propagava a seguinte informação, “Em nome de El Rei o Senhor D. João VI, se mande remeter aos claviculários do Cofre dos Donativos os documentos juntos por onde consta o oferecimento que fez Joaquim António Clementino Maciel, capitão do regimento Milícias da Covilhã, da importância da metade dos vales e cédulas, que lhe ficaram pertencendo por morte de seu pai”. Depreende-se dos últimos factos, agora relatados, a proximidade de Joaquim Maciel a D. João VI e aos ideais do Liberalismo. Corrobora este aspeto, em 1822, a criação da Sociedade Literária Patriótica, na Covilhã, de que faziam parte para além de Joaquim António Clementino Maciel, António Gabriel Pessoa de Amorim, Simão Pereira da Silva Pessoa, Manuel Mendes da Cunha, entre outros. Porém, a Vila Francada, insurreição liderada pelo Infante D. Miguel de Portugal, em 27 de maio de 1823, traria problemas aos liberais que se replicariam na Covilhã. Mandava-se encerrar a Sociedade Literária Patriótica e entre 15 e 21 de junho houve grandes tumultos na vila.

É neste ambiente que Maciel é perseguido, refugiando-se no tronco oco dum castanheiro, prometendo à Virgem que, caso saísse ileso, lhe edificaria um templo, o que veio a acontecer. Entretanto, na Covilhã, substituía-se o Juiz de Fora, José da Mota Veiga por Manuel Melo de Bulhões. Alem destas imposições, proibiam-se ainda de ensinar, António de Sequeira Faial e Jâcomo Gomes Feio e, a 26 de agosto, em consequência da proposta do infante D. Miguel, foi demitido do real serviço o capitão graduado em major do regimento de milícias da Covilhã, Joaquim Maciel. A situação não impediu o cumprimento da promessa de Maciel a Nossa Senhora e, em 10 de dezembro de 1825, é celebrada a primeira missa no novo templo.
Depois de 1828, a situação torna-se a complicar para Maciel, quando D. Miguel assume o poder do reino. Maciel foi preso político na Torre de São Julião da Barra, de 4 fevereiro até 14 novembro de 1831, transitando para a cadeia no Porto até março de 1832. Na Covilhã, em 1834, com o triunfo do liberalismo, Maciel, liberal assumido, seria nomeado provedor do concelho (cargo que daria origem ao de administrador do concelho). Exerceu ainda a função de escrivão de órfãos. Desconhece-se a data de sua morte, tendo sido sepultado na capela que mandou construir na sua propriedade, na sequência da promessa já referida. A propriedade (casa, terras e capela) transitaria depois para a família Mendes Veiga que ampliou o templo o qual se alargaria ao uso público, com o segundo conde da Covilhã.



