Tudo começou em Janeiro de 1913, chamava-se “A Democracia”. Foi título de pouca dura, seis anos depois a publicação suspensa e o seu director preso. Em Maio de 1919, rebaptizado de Notícias da Covilhã. Seja como for, já lá vão mais de 112 anos, e tal como naquele tempo há por aí muito boa gente que gostaria de suspender a democracia. E eu acrescento, já esteve mais longe. Por vezes em debates mais restritos me bati pela ideia de que os portugueses são merecedores de um regime autoritário, de uma ditadura, tal a forma como desbaratam os seus direitos e deveres, mostram pavor ao exercício da liberdade, gostam que pensem por eles, arrebanham-se em torno de qualquer pastor que lhes pregue uma boa mentira – quem diz uma, diz um ror delas – não questionando sequer a existência de ideias, e a bondade das mensagens. Reveem-se numa boa patranha, porque na verdade a “chico-espertice” é algo que nos é tão familiar, que é quase um modo de vida. Mas caramba, já paramos para pensar um pouco e imaginar um país com um almirante na presidência e um líder de uma seita mentirosa a dirigir um governo? É isto que queremos, foi para isso que fizemos o vinte cinco de abril?! A liberdade não é ideológica, é um conceito magnânimo, aplicado a vários contextos, mas sempre representando um estado que aporta a sensação de estar livre. Sem amarras, sem grilhetas.
Eis-nos chegados ao momento em que este periódico atinge a simbólica cifra de 6000 edições impressas. Meio século depois de abrirmos a janela da gaiola e finalmente termos condições para voar, para sermos livres… somos forçados a concluir que fizemos tudo ao contrário. É o que parece. Como se o dia em que conquistamos esses direitos, tivesse significado o pico da ascensão, e a partir dessa meta rebolássemos aos trambolhões até ao ponto em que teríamos de começar tudo de novo. Hoje. É também o que parece. Socialistas, sociais-democratas, liberais, comunistas e outros que tais, andaram anos – em nome do povo que tanto dizem representar – desviados do foco. Dos objectivos fundamentais a que se propuseram. Os de uma economia progressista, desenvolvida e com justiça social. É muito estranho que uns e outros se entreolhem agora buscando culpas alheias para a tragédia – sim pode ser uma tragédia – quando estão “carecas” de saber quais as razões para que um grupo sem ponta por onde se pegue, tenha obtido um “sim” de mais de um milhão e trezentos mil portugueses, e perante este quadro se assuma por sua própria vontade como alternativa governativa. “Vade retro, Satanás”! Por favor não se sintam tentados, percebam que é o interesse nacional que deve estar acima de divergências ideológicas, de interesses partidários, e uma sociedade equilibrada, justa e verdadeira, é tudo o que importa. Para que continue a fazer sentido a existência de uma imprensa livre, escorada em pensamento e expressão só passíveis de acção numa democracia protegida. É vital!
Como director do Notícias da Covilhã, dedico estas linhas aos trabalhadores Ana Rodrigues, João Alves e Rui Delgado, bem como a todos os que continuam a lutar por uma imprensa regional forte.