Faça chuva ou faça sol, esteja frio, vento ou nevoeiro, o lugar de António Rodrigues, quando o Sporting da Covilhã joga em casa, é nas bancadas do Estádio Santos Pinto. Sempre presente não é uma força de expressão, porque “deve-se apoiar o clube nos bons e nos maus momentos”.
António, natural de Verdelhos, 59 anos e sócio ininterruptamente há 43, postura calma, distingue-se dos demais pelo traje com que se apresenta nos jogos, como o momento solene que são para si os dias em que os serranos entram em campo. De casaco verde com o emblema dos “leões da serra”, camisa verde e branca, gravata da mesma cor, também com as insígnias do Sporting da Covilhã, o pin de sócio de prata na lapela, boné no mesmo tom e o cachecol onde se lê “Amo-te Covilhã” ao pescoço, o adepto veste-se a rigor para a ocasião e tira a roupa tão especial assim que chega a casa.
Ainda os portões não abriram e já António Rodrigues está à porta do estádio, para ocupar um dos lugares a meio da bancada superior, onde se manterá até ao final da partida, sem exteriorizar as irritações, a exultar quando a bola entra na baliza certa e a virar costas quando houve comentários depreciativos sobre a equipa.
“O Covilhã é a minha estrela dourada”, diz, ao NC, o sócio número 443, residente em Cantar-Galo e que se desloca a pé para os jogos, por vezes à boleia com um vizinho. Subir a rampa de acesso ao estádio não tem a mesma envolvência de outros tempos, quando esses eram momentos de romaria para centenas de pessoas que venciam o declive acentuado em conjunto, mas não é por outros terem deixado de o fazer que António não cumpre o ritual.
Dia de jogo “é dia sagrado”. Desde menino, quando aos sete anos se mudou de Verdelhos, e passou a ser presença habitual no ainda campo pelado, o Sporting da Covilhã já lhe proporcionou “algumas tristezas”, mas também “alegrias imensas” e, mesmo quando o clube passou pela III e pela II Divisão B, o entusiasmo e dedicação não esmoreceram.
“O meu clube é o clube da minha terra. Ser sócio do Covilhã tem um enorme significado para mim e fico muito triste quando vejo o estádio vazio, porque um estádio vazio é como uma noite escura”, compara António, que se veste a rigor, com o casaco oferecido por um antigo jogador, para ser sempre mais um a apoiar, “sobretudo nos momentos mais difíceis, porque é nessas alturas que é mais importante”.
Pelo Sporting da Covilhã faz sacrifícios. Em tempos que já lá vão chegou a perder o emprego, por causa da hora dos jogos. Também conta, ao NC, que pediu dinheiro emprestado para poder ir ver partidas fora e, mesmo em períodos de “muitas dificuldades”, fez questão de continuar a pagar as quotas.
“É uma paixão muito grande que tenho pelo Covilhã, é o amor clubístico. Para mim é também uma forma de me distrair. Se não for, não ando bem. Tenho este vício e ninguém me o tira”, salienta Toni, como também é tratado, que fez parte da extinta claque Carolas Serranos e foi apanha-bolas.
Pontualmente, acontece a profissão não lhe permitir viver as emoções junto ao relvado e é nesses dias que “o sangue ferve muito”. Coveiro, António Rodrigues cumpre escalas e já tem acontecido coincidir com as jornadas em casa, bem perto, mas distante por apenas poder acompanhar o relato e é nessas ocasiões que mais se enerva com o desenrolar da partida.
Esta época, com o emblema serrano quase sempre na parte inferior da tabela, ou em zona de perigo, Toni tem apreciado a forma como Helitão “mete respeito na defesa”, ao mesmo tempo que menciona os muitos “bons jogadores” que ao longo dos anos viu vestir as cores dos “leões da serra”.
António preferia não chegar tanta vez à recta final do campeonato com a incerteza no horizonte, mas acredita que, tal como em temporadas anteriores, o Sporting da Covilhã vai garantir a manutenção no segundo escalão do futebol nacional.
“Tenho fé que se safam, mesmo que seja à justa”, antecipa o dedicado adepto, que espera ver nas jornadas que faltam “muita gente nas bancadas, para dar outro impulso à equipa” e que, como também faz, ajudem a pintar o estádio de verde.
No próximo ano, quando se comemora o centenário, tem o desejo de ver o clube a iniciar a actividade na Academia, com a expectativa de voltar a ver brilhar na equipa principal jogadores da região, e ambiciona o regresso dos serranos ao principal escalão.
“Nos cem anos espero que seja o ano da subida, por isso, espero que a direcção consiga um orçamento compatível com um plantel de outra craveira e que a cidade ajude, como acontecia antes”, frisa António Rodrigues, para quem seria um momento importante ter condições para, na ocasião, envergar um fato completo alusivo ao Sporting da Covilhã, “também com colete”, para usar nesses dias de tanta relevância para si, como são as idas ao Estádio Santos Pinto.
Seja na I Liga ou nos escalões inferiores, desde que a saúde lhe permita, tem uma certeza: lá estará na bancada, mesmo que no caminho tenha um temporal por companhia, como tem acontecido tantas vezes.