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A falácia dos rankings das escolas

Quando andava na escola, tive na turma o filho de um empresário abastado que o enviou para um famoso colégio, daqueles que hoje aparecem nos primeiros lugares das melhores médias nos exames nacionais. Ora, há processos que não acontecem por osmose e, continuando o aproveitamento a ser medíocre, o filho foi devolvido à procedência, numa altura em que ainda não havia rankings.

Na mesma escola que frequentei, partilhava as salas e corredores com colegas que saiam de casa de noite, a maioria da zona do Pinhal Interior, regressavam sem a luz do sol, em viagens diárias e intermináveis, por estradas serpenteadas, e tinham de aproveitar os períodos livres entre aulas para estudar.

Era uma escola com ricos, remediados e pobres. Onde quem tinha tudo se cruzava com quem não tinha nada, ainda que pudessem não se misturar. Onde quem tinha acesso a privilégios se sentava nas mesmas cadeiras de gente que ocupava parte do tempo a trabalhar, ou que abandonou a escola precocemente. Com nuances, o contexto não há de ser hoje muito diferente. Qual é a classificação? Não fui ver. Há de ser a soma de tudo isto. Há de constar num lugar que não envergonha quem dá importância aos rankings.

Há escolas que escolhem os alunos, outras têm naturalmente alunos maioritariamente de contextos mais favorecidos, há as assim-assim e as que educam estudantes de meios mais carenciados a vários níveis, ou as que têm de trabalhar com mais gente com necessidade educativas especiais.

Os rankings, de que há dias tanto se falou, são uma falácia e inúteis. Comparam o incomparável, realidades diferentes, num sistema que avalia todos por igual.

É uma “lapalissada” que nem todas as escolas são iguais. Há quem tenha de ter na integração da diferença outra prioridade, quem lide mais com contextos desfavoráveis, com alunos com diferentes situações socioeconómicas. Comparar escolas para todos com escolas para alguns, com base apenas numa métrica, não é justo.

O que é que o ranking das médias dos exames nos diz do esforço e capacidade dos alunos, professores e restante comunidade educativa de cada escola? Pouco ou nada. É porque os professores, genericamente, são melhores, ou porque os estudantes têm uma capacidade intelectual acima da média? Obviamente que não.

Essas listas nada nos dizem sobre o impacto da escola na vida dos estudantes. Uma boa escola é aquela que contraria o determinismo social, a que cria condições para que os alunos se superem relativamente ao seu contexto, é a que promove a equidade, onde se criam condições para potenciar capacidades e se dão ferramentas para tratar de forma diferente o que é diferente, sem discriminar.  É a que tem um plano pedagógico centrado nos alunos e na sua circunstância, não apenas em números. É a que procura estimular quem precisa de mais e faz um acompanhamento mais robusto a quem revela dificuldades.

Os rankings têm muito eco e pouca análise de dados paralelos, até porque muitos não são disponibilizados.

Parece-me bem que exista este instrumento de trabalho, não consigo alcançar qualquer benefício em tornar públicos esses rankings que, no limite, podem estigmatizar.

Os rankings são uma espécie de corrida que apenas almeja classificação, sem se importar se a pessoa arrancou antes do tiro de partida ou se conquistou derrubando moinhos de vento que insistem em atirá-la para trás. São uma competição em que não é tida em consideração se um atleta vai descalço, se é coxo, se tomou ‘doping’ ou se calça umas daquelas sapatilhas com sola que dão impulso e vantagem no desempenho.

Por falar em rankings, há um a que não se dá grande destaque, como o que demonstra que os alunos que saem do ensino privado, muitas vezes com notas inflacionadas, são os que mais reprovam na universidade.

*Jornalista

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