Se há algo pelo qual Maçaínhas, no concelho da Guarda, é conhecido, é pelo tradicional cobertor de papa, feito em pura lã, que ao longo de décadas foi sustento de muitas famílias da aldeia. Ao longo dos anos, os artesãos que o produzem foram desaparecendo e lutar pela sua preservação tem sido cada vez mais difícil. Foi com esse intuito que nasceu, por ali, a associação O Genuíno Cobertor de Papa, que luta pela manutenção de uma peça artesanal, ecológica e que é feita exclusivamente em Maçaínhas.
Aproveitando o facto de, no próximo fim-de-semana se realizar, na aldeia, um Festival de Cultura Popular, promovido pela Câmara da Guarda, a associação desafiou os habitantes da aldeia a colocarem, durante esses dois dias, um cobertor de papa à janela, como forma de mostrar que ele ainda existe.
Maria do Céu Reis, presidente da associação, conta que este é um produto que sempre os pastores e gentes de Maçaínhas produziram, único a nível mundial, feito a partir de lã churra, de ovelha. Mas que assegurar a sua continuidade não está a ser fácil, porque “falta tudo”, desde mão-de-obra para a sua produção até à certificação que garanta a autenticidade do produto. Algo que, contudo, envolve custos avultados. “São necessários quase 30 mil euros e depois temos de pagar mais 4.500 euros por ano para usar o selo. É preciso um apoio para se poder fazer isto”, admite a artesã.
Hoje, na aldeia de Maçaínhas, bem perto do Mondego, o cobertor apenas é produzido numa antiga fábrica que foi reaberta pela associação, em regime de voluntariado, por quatro artesãos locais. Haver uma unidade produtiva era um dos sonhos de futuro da associação, que diz ter bastante procura do produto, por parte de estrangeiros, o que muitas vezes leva a que não consiga satisfazer as encomendas.
O presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, explica que a integração do cobertor de papa nos festivais de cultura popular tem como intuito que “pelo menos, uma vez por um ano, as pessoas se apercebam da sua existência”.