A. J. Pinto Pires

(Professor)

Uma realidade feita de encontros e desencontros. Assim poderíamos sintetizar os 132 anos de uma linha que deveria ser considerada imprescindível para este interior tão marcado por avanços, recuos e promessas vãs que o tempo tem tardado e teimado em contrariar. A LBB.

Dirão da rua, a linha está toda eletrificada, em grande parte renovada, mas para quem desde há muitas décadas tem sentido o pulsar desta LBB, não nos podemos sentir aquietados quando constatamos que a mesma não foi bafejada por intenções mais elevadas, como seria, e a título de exemplo, ver consagrada no Plano Ferroviário Nacional, uma medida tão importante como seria o da redução do tempo de percurso que ainda nos separa da capital, um anseio ancestral, que teima em tardar.

Não constitui segredo de estado que se não for efetuada uma aposta determinada na retificação do seu traçado, considerado viável e premente, continuaremos a ver Lisboa por um estreito canudo.

Se tomarmos como exemplo a renovação do traçado entre a Covilhã e a Guarda, não se pode considerar a melhor referência. Onde houve a ousadia de dar corpo a excelentes obras de arte, de elevada singularidade, a contrastar com outras medidas / decisões apressadas, tais como a manutenção de um traçado próprio dum século XIX, mas completamente desadequado para os tempos que correm. E o resultado, ou os ganhos nos tempos de percurso, não foram os esperados, ficando-se pelos 90 e até 70 kmh, inconcebível nos tempos que correm. Soma daqui e dali, temos Intercidades (IC) a parar em locais impraticáveis que em nada dignificam um serviço que se pretende de excelência. Da Guarda à Covilhã, os IC só deveriam efetuar uma ou nenhuma paragem. Mas não, os IC perdem esta categoria no troço mencionado, param em todos os apeadeiros desadequados ao comprimento das composições e uma dor de cabeça para os revisores.  De que estamos à espera?

Já que falamos em paragens, acrescento a esta temática os comboios regionais, estando na altura de pensar na supressão de algumas delas onde não entra ninguém contribuindo para o aumento dos tempos de viagem. Leia-se Fatela, Tojeirinha, Fratel e outras.

Assim como não faz qualquer sentido que os IC não parem em Alferrarede e o façam em Abrantes, uma estação que está longe de tudo, ao passo que Alferrarede está cada vez mais no epicentro da expansão urbana daquele concelho. Como aliás já sucedeu.

E porque a efeméride constitui motivo de júbilo, já que pedir não custa, relembramos uma paragem que seria importante implementar, a do Canhoso/Teixoso. E porque esta linha reúne potenciais importantes, onde param os terminais do Fundão ou Tortosendo! E os tão badalados serviços combinados para servir localidades limítrofes? Ou será que bem prega frei Tomás quedando-se a sensação de apenas se evocar a LBB quando precisamos enfeitar o ramalhete para de imediato tudo cair na sacola do esquecimento.

Em tempos, um semanário regional decidiu “abrir guerra” junto poder central, para que se construísse o túnel rodoviário da Gardunha, que veio ocupar o canal ferroviário previsto no sec. XIX, suplantado pela decisão Gardunha, hoje um constrangimento à exploração. Não seria tempo de encetar uma cruzada no sentido de se voltar à solução inicial?

Convém relembrar que 132 anos não são uma data qualquer, devendo exigir e reclamar não apenas respeito, mas sobretudo empenhamento determinado para com esta Linha da Beira Baixa que continua a revelar-se uma das mais importantes infraestruturas no panorama ferroviário nacional.

Que terão a CP e a IP a dizer sobre as temáticas enunciadas? Assim como outras entidades!