“Não se justifica pagarmos o passe e andarmos a pé”. Quem o diz é Fernanda Marques, 67 anos, que não tinha conhecimento da greve dos motoristas de autocarros que decorreu na passada sexta-feira. “Só fiquei a saber da greve quando cheguei aqui à paragem e a minha reação não foi boa. Vou para a aula de hidroginástica, na parte de baixo da cidade e tenho de ir a pé. Não posso pagar dois táxis, para baixo e para cima e pagar a aula também”, explica.
Os trabalhadores da MoviCovilhã, do grupo Transdev, estiveram em greve, todo o dia, na sexta-feira, 10. Em causa está a reivindicação da rotatividade dos serviços diários por todos os motoristas e a reorganização dos tempos de percurso.
“Deviam ter alguém que assumisse os horários, não tem lógica nenhuma pararem assim. Vamos ter algum desconto nos passes? Não temos, eu já o paguei e, nestes próximos dias que pretendem parar, não o vou usar”, reclama Fernanda.
Sentada num dos bancos da paragem do Pelourinho estava Maria do Rosário Martins, 81 anos. Informada da greve apenas no dia anterior, não teve alternativa. “De manhã, vim da Biquinha até ao Pelourinho a pé. Agora estou à espera, a ver se arranjo uma boleia de uma amiga que me leve para cima, porque parti uma perna e estou com uma bengala, não consigo andar”, protesta a idosa, que considera que a greve veio prejudicar todos os utilizadores dos transportes públicos.
“Por acaso, não sabia da greve, só fiquei a saber porque ouvi as pessoas a falar disso”, conta Maria Isaura Pereira, de 70 anos. “Vou para o Tortosendo e a sorte é que o meu marido está em casa e pode-me vir buscar. Senão, tinha de alugar um táxi e já não era a primeira vez, que já quando alteraram as linhas e os horários, vim três vezes à cidade e tive de alugar táxis. O que é um prejuízo muito grande, porque cada táxi cobra 19 euros até à minha casa e o bilhete do autocarro era 1,70€”, explica.
“Motoristas têm de lutar pelos seus direitos”
Apesar de tudo, Maria Isaura concorda que os condutores dos transportes públicos façam greve. “Acho bem que façam greve, temos de lutar pelos que é nosso e os motoristas têm de lutar pelos seus direitos”.
Cristina Lazaroto, de 29 anos, também não tinha conhecimento da paragem dos autocarros. Como tantos outros utentes, viu-se obrigada a caminhar. “Vou ter de ir a pé para o Intermarché. Para voltar para cima, carregada com compras, vou ter de ver a melhor solução. Mas, se é para melhorar a condição dos motoristas, acho justo. Apesar de eu e mais pessoas ficarmos prejudicadas, é um direito dos trabalhadores”, afirma a jovem.
“Soube da greve através do Facebook”, conta Maria Formiga, 52 anos. Maria desloca-se todos os dias de autocarro para a Central de Camionagem, onde trabalha. “Eu não acho correto, porque aqui na Covilhã não temos outros transportes públicos que possamos usar caso os autocarros parem, como fizeram hoje. As pessoas, ou pagam táxis, ou vão a pé”, esclarece.
“Os motoristas têm razão em lutar pelos seus direitos, mas as pessoas ficam sem alternativas e não se conseguem deslocar”, termina.