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Aprender a jogar

Crianças da Covilhã, Fundão e Belmonte foram à Assembleia da República apresentar um jogo, sobre os princípios de democracia, criado na região, mas pensado para ser distribuído em todo o país

Assim que terminou a descontraída sessão protocolar com o presidente da Assembleia da República, durante a qual Augusto Santos Silva interagiu e respondeu a perguntas que lhe foram feitas por algumas das cem crianças que participaram na elaboração do jogo Constituição e foram a Lisboa à sessão de apresentação, desviaram-se cadeiras, ocuparam-se mesas e também o chão para o ansiado momento de experimentar o projeto para o qual 190 alunos de dez turmas da Covilhã, Fundão e Belmonte contribuíram.

Há dois anos que cada escola sugeriu o seu próprio jogo, do qual resultou um protótipo e algumas já o tinham testado, mas para algumas crianças foi a primeira vez que tiveram na mão a versão final do jogo no qual trabalharam quando frequentavam o 3.º e o 4.º anos.

Num dia longo e diferente, numa das salas da Assembleia da República o entusiasmo torna o ambiente ruidoso. Todos querem jogar. Discutem-se regras. Eleva-se a voz na tentativa de ser o primeiro a responder, contesta-se a mímica utilizada para os restantes tentarem adivinhar palavras como votar, ou debate, verifica-se no livro a que penalização ou benefício corresponde cada casa do tabuleiro.

Criado localmente, por alunos da Cova da Beira, o jogo Constituição está à venda, por 20 euros, para todo o país. Ver um projeto nascido na sala de aula ganhar este alcance, perceber que “qualquer pessoa, em qualquer lugar, pode aprender com ele, é surpreendente”, assim como ir ao local onde são feitas as leis apresentar o jogo sobre a Constituição da República Portuguesa é “um orgulho”. “Sinto que o que nós fizemos foi reconhecido”, considera Mafalda Afonso, de 11 anos.

“Permitiu-nos aprender de forma divertida”, comenta Mafalda, da Covilhã, que sublinha a particularidade de terem trabalhado no jogo após o período em que a pandemia obrigou a ficar um longo período em casa e a importância de “fazer atividades que não eram só curriculares”. “Participar nisto, e agora vir aqui mostrar o que fizemos, foi uma oportunidade única”, salienta a antiga aluna da Escola dos Penedos Altos.

Enquanto se tenta fazer ouvir perante o efusivo colega da frente com quem joga, que tenta acelerar os movimentos dos peões, Guilherme, 11 anos, de Caria, mostra-se empolgado com este dia vivido em 20 de dezembro e vai elencando as muitas curiosidade que aprendeu, desde “para que servem os tribunais”, “os nomes os presidentes”, como se pode formar uma associação, o que é uma assembleia de voto, a importância do Serviço Nacional de Saúde ou o direito ao ensino, em contraponto com o que acontecia antes, em que muitas crianças tinham de ir trabalhar e não podiam estudar.

“Este jogo significa conhecimento. Ajudou-me a perceber muita coisa”, comenta Guilherme. “Ó mano!”, chama o irmão gémeo, Afonso, para o apressar a lançar o dado. “Eu não sabia o que era a Constituição. Agora sei um pouco e sei que até ao 25 de abril faltava liberdade aos cidadãos”, sublinha o aluno de Caria.

Numa mesa ao lado é grande a algazarra. “Que regime estava em vigor antes do 25 de Abril de 1974?”. “Uma ditadura”, responde um, “Estado Novo”, riposta João Ferreira, de Vales do Rio. Vai-se confirmar. Estão ambas as respostas corretas. “A partir de que idade é permitido trabalhar?”, continuam. “É aos 18!”, dispara uma das crianças. “Ó puto, é aos 16. Não avanças”, intervém outro colega. João falha uma pergunta e constata: “estou à frente, mas não tenho cravos”, as cartas que importa acumular neste jogo. Ganha quem tiver mais no final, e não necessariamente quem chega à meta em primeiro.

Tiago Jesus, 11 anos, acha “justa esta regra”, porque “às vezes é preciso voltar atrás e ajudar outros, porque juntos somos mais fortes”. Para o aluno, de 11 anos, “todas as casas são muito importantes, em todas aprendemos algo”.

Sofia Batista, 10 anos, do Paul, manifesta-se satisfeita por ver ao vivo Santos Silva, que só conhecia da televisão, e valoriza especialmente a “oportunidade” de visitar a Assembleia da República (AR), “onde se fazem as leis”, para partilhar um jogo sobre o documento que serve de orientação a toda a legislação. “A Constituição é muito importante, para sabermos os nossos direitos e deveres. Não podemos viver só de obrigações, também temos os nossos direitos”, refere Sofia, que afirma ficar “contente se o jogo chegar a mais gente, para formar melhores cidadãos”.

Salvador, do Barco, 10 anos, foi um dos alunos que comprou o jogo, para “ajudar a desenvolver o conhecimento”, porque quer partilhá-lo com toda a família, para ensinar o irmão e também porque quer que ele, com metade da idade, “aprenda a perder”.

(Reportagem completa na edição papel/PDF desta semana)

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