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Os recordes

Há uma estreita ligação entre um jogador português de futebol, neste caso um dos mais mediáticos do mundo, e a forma como esse mundo de um momento para outro parece invadir Portugal. Uma invasão boa, na perspectiva de tantos, dos responsáveis políticos aos produtores de vinho, passando pelas máquinas da hotelaria, da restauração e do marketing. Mesmo partindo do princípio que toda essa gente que jornada após jornada, chova ou faça sol, é aqui descarregada, e deixa pouco espaço de movimento aos cá do burgo. Pode até parecer um exagero, mas dando umas boas voltas pelo centro da capital do país, a qualquer hora, em qualquer momento, damos de caras com milhares de exemplares humanos de todos os cantos do globo, que compram, gastam, consomem tudo e mais alguma coisa. Os de cá, estão quase sempre do lado de lá do balcão de atendimento.  Ah… espera, mas esses também não são de cá. Esses são do lado de lá do Atlântico. Então, que diabo é feito dos portugueses, que não dão as caras em Portugal? Espalhados pelos montes e planícies daquele outro país que todos teimam em não conhecer, mas que põem isto a mexer, ou estão nas suas casinhas, pois então, situadas nos subúrbios das grandes cidades, de onde diariamente tomam o transporte para se enfiarem no escritório, na fábrica, nos armazéns. Pelo menos, durante oito a dez horas, para no fim do dia se colarem ao pequeno ecrã, e apaixonadamente roerem as unhas, enquanto o mais conhecido futebolista do universo, e símbolo turístico da “tugalândia” não marcar um golo, naquele dourado campeonato. Para mais aquele recorde, com que os seus compatriotas tanto sonham e vibram. E esta é a outra face visível da ligação do jogador madeirense aos movimentos da moda “Visit Portugal”. Os números. Os recordes.

Cristiano foi o melhor marcador de golos do mundo em 2023, e este ano foi o melhor da história para o turismo do nosso país. Portugal vende-se como nunca. À medida que a bola chutada pelo goleador “beija” (expressão futebolística) as redes da baliza do guarda-redes da equipa adversária, aterram dezenas de aviões nas pistas dos vários aeroportos portugueses. O som é o de uma caixa registadora, que vai assinalando as somas, quer nas algibeiras do atleta, quer nos cofres do Estado português. E do mesmo modo que fazemos estas contas, cruzamo-nos em várias ruas da baixa de Lisboa, com jovens oriundos dos mais diversos pontos do globo, envergando a camisola da selecção nacional de futebol com o número 7 impresso nas costas, acabada de comprar numa loja da Praça    da Figueira, a um vendedor paquistanês. E isto não é bom?! 30 milhões de hóspedes, 77 milhões de dormidas e receitas de cerca de 25.000 milhões de euros. Claro que sim. Ronaldo marca golos há quase vinte e anos, e não há meio de parar. É excelente.

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