Melhorar a capacidade cardiorrespiratória, aumentar a força, diminuir os efeitos secundários após tratamento de cancro são alguns dos objetivos do programa de treinos Mama Move, criado em 2015 na Universidade da Beira Interior, destinado a sobreviventes de cancro da mama.
“Isto não é só exercício físico. É um projeto que tem várias vertentes e várias componentes multifatoriais. Desporto, medicina, psicologia…” explica Ricardo Madeira, um dos coordenadores do programa, referindo que além dos aspetos já enumerados, as sessões de treino também ajudam na diminuição das náuseas e neuropatias e nas questões sociais, uma vez que os treinos são feitos em grupo e há uma ligação e troca de experiências entre os participantes. “Em termos psicológicos, nós fazemos aqui algumas avaliações e agora vamos abrir aulas, através de um psicólogo, que vão ajudar neste processo que acaba por ser doloroso em termos de cancro”, revela.
Ricardo Madeira esclarece que as sessões de treino combinam exercícios de força com exercícios de aeróbia. “Fazemos sempre uma parte mais de mobilidade, com bolas, esparguetes, e alguns pesos com pouca carga. Depois, vamos para o outro lado do ginásio e fazemos carga na máquina”, conta, afirmando que os exercícios são sempre adaptados a cada pessoa e que à medida que os participantes vão avançando nos treinos, há um ajuste, quer de volume, quer de repetições e séries. Para isso é feito um primeiro questionário que tenta perceber vários aspetos relacionados com o cancro e com os tratamentos realizados. “Tentamos ir também um bocado fora da doença e tentar perceber que outras patologias há. Problemas de coluna, diabetes, hipertensão, etc. Depois fazemos os testes físicos para percebermos em que patamar estamos e depois delineamos o treino conforme os valores”, refere Ricardo Madeira.
Maria Rodrigues, 73, é uma das 40 pessoas a frequentar os treinos, participando há cerca de oito anos após ter conhecimento do programa pela televisão. E afirma “fazer falta” quando não vai. “Já estive parada por uma queda e fez-me muita falta. Quando a gente é operada dizem que não podemos pegar em pesos, nem nada e uma pessoa cansa-se mais. Desde que para aqui vim não me canso”, assegura.
Apesar de o programa se chamar Mama Move e ter sido inicialmente criado para sobreviventes de cancro da mama, atualmente qualquer pessoa, com outro tipo de cancro, é bem-vindo nas sessões. “O objetivo era mudar o nome, mas não o fizemos para as pessoas não associarem a dois projetos diferentes. O programa é Mama Move, mas nós estamos a dar resposta a outros tipos de cancro”, explica Ricardo Madeira.
Teve cancro da próstata, acompanhou esposa, e ficou nas aulas
Exemplo disso é o marido de Maria Rodrigues, Manuel Rodrigues, 81, sobrevivente de cancro da próstata. “Vim com a minha esposa, depois perguntaram-se porque é que não vinha também e sinto-me bem”, afirma. Manuel refere ainda que sempre gostou de ginástica e que vai continuar no Mama Move enquanto a saúde lhe permitir. “Apesar de ter 81 anos, não me sinto com eles. Creio que se não fosse o ginásio que tenho feito ao longo deste tempo, acabava por sentir o peso dos anos. Gosto de ver até onde consigo”, garante com um sorriso.
De acordo com Adriana Maia, também coordenadora do projeto, já há várias pessoas a procurarem o programa por indicação médica. “Há pessoas que ainda não começaram sequer a parte da fisioterapia e já vêm ter connosco. Já são os médicos que indicam”, revela.
Quanto aos resultados obtidos, a coordenadora diz que os participantes têm aumentado a capacidade cardiorrespiratória e têm ganhado mais confiança a fazer tarefas do dia-a-dia. “O que fazemos aqui transfere para o dia-a-dia e é esse o nosso objetivo. Que as pessoas se tornem outra vez independentes e consigam retomar a sua vida normal. Há muitas senhoras que falam do cansaço de fazer as tarefas do dia-a-dia como aspirar, lavar a casa, fazer a cama e passado um ano ‘olha, já consigo fazer’”, conta.
“Faz-nos bem. É uma mais-valia e um alívio”
Maria do Céu Gaspar, 58, é uma das pessoas mais antigas a frequentar as sessões de treino, participando desde o primeiro ano. “Fui diagnosticada em 2014, depois fiz quimioterapia, radioterapia e cirurgia. E assim que estive bem, vim logo para o exercício”, recorda. Maria do Céu considera que as sessões a têm ajudado “na parte do cansaço”, referindo ser uma mais-valia.
“Enquanto este programa durar, eu estou cá. Faz-nos bem. É uma mais-valia e um alívio. Pelo menos o meu linfedema melhorou bastante com esta parte do exercício e os médicos incentivam. Os médicos sabem que eu participo e continuam a incentivar. E ajuda na recuperação a todos os níveis”, relata.
Já Anabela Alçada, 53, é a participante mais recente do Mama Move, tendo entrado no final de janeiro por referência de uma amiga. Apesar de nunca ter parado de fazer exercício, nomeadamente, caminhadas, Anabela revela que no início se sentiu “receosa” com os esforços, tendo sido tranquilizada pela coordenadora Adriana Maia. “Regressei ao trabalho em janeiro e achei por bem fazer mais algum exercício, porque só o trabalho não ajuda”, diz.
“Temos que acreditar que as coisas nos estão a fazer bem e que vai correr tudo bem. É para continuar”, garante.
As sessões do Mama Move decorrem segundas, quartas e quintas-feiras no departamento de Ciências do Desporto, em Santo António, das 17:30 às 19:45.