Procurar
Close this search box.

Venha o diabo e escolha

“A cada dia que passou dos três meses de campanha eleitoral, as dúvidas adensaram-se ao invés de clarificarem as ideias do Zé”

Quem quer ser primeiro-ministro, quem é… quem é?! Quero eu, quero eu! “Eu quem?!, pergunta o Zé de boletim de voto na mão, pronto para lhe botar uma cruzinha, depois de afastar a cortina daquele privado biombo, onde num íntimo processo vai depositar a sentença. A questão é que o Zé não sabe, não faz mesmo a mínima ideia, que quadrado cruzar. A cada dia que passou dos três meses de campanha eleitoral, as dúvidas adensaram-se ao invés de clarificarem as ideias do Zé que bem olha para trás, tentando descortinar na sala um sinal que lhe mostre o caminho, mas a confusão gerada na linguagem gestual dos candidatos é tal que vemos apenas um encolher de ombros do Zé que, prestes a desistir, dá por ele a pensar; “venha o diabo e escolha”. Ah espera… o Diabo já veio! Sim, mas fez uma visita de médico. De médico diabólico! Tão depressa apareceu, como num ápice se esfumou. Espalhou uns pós de perlimpimpim e “bazou”, não sem antes deixar o “doente” ainda mais confuso. Então “seja o que deus quiser” Quanto a Deus, não me parece que nos possa ajudar neste delicado momento, e o Zé insiste na dúvida, fruto de uma confusa cascata de pensamentos. “E agora que faço, diz-me lá tu que estás cheio de basófia que te preparaste para sê-lo, diz-me lá porque mereces tal escolha?! Uma voz soluçante que ecoa na sala de votar diz: “Eu gosto de fazer, fiz que fiz mas não fiz, é agora que vou fazer. De certeza!”Humm… isso não parece muito convincente, como posso acreditar em ti perante tanta dúvida, pensa o Zé que se preparava para passar a cortina, e num ápice volta à dúvida latente. Espreita e pergunta; “e tu que não estavas nem aí para governar, nem a quem te aliar, tens algo que me possa ajudar neste momento tão delicado, de uma indecisão imensa. Tua e minha, bem se vê!?” Da instalação sonora “voa” uma mensagem que apregoa; “Vai em frente rapaz, sem medos, não hesites, nós temos o que tu precisas”. O Zé abana a cabeça, baixa os olhos e diz para si; como esta gente sabe o que quero, se não me perguntaram nada?!

Nisto o Zé sente um peso no ombro direito que quase o derrota. Tem um boneco encostado à orelha. Parece ganhar vida quando ao seu ouvido a figura lhe sussurra; “meu caro Zé, eu sou o tal, o especial, o conforto que te falta, o sinal de mudança que tu queres, eu sou aquele que te vai dar uma vida melhor”. As palavras “cantadas” foram interrompidas, porque uma nova personagem pousou no outro ombro e gritou; “Espera, não vás em cantigas! Esse tipo é uma besta! Nós somos mais tranquilos, ponderados, posso garantir-te Zé, tomamos a iniciativa de te dar um futuro melhor”. O Zé desfalece, puxa a cortina, arranca o biombo… e cai desamparado. Acorda numa cama do hospital. À sua esquerda, aos seus pés, estão uma mulher e dois homens que com o seu voto nas mãos, lhe amaciam o momento; “anda daí Zé, nós não podemos ser, mas temos a solução para ti!” O Zé levanta-se e desata a fugir.

VER MAIS

EDIÇÕES IMPRESSAS

PONTOS
DE DISTRIBUIÇÃO

Copyright © 2024 Notícias da Covilhã