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História- Coincidências ou repetições

A democracia e os não democratas que gostam de viver em democracia

Carlos Madaleno

(Historiador)

Muito se tem falado ultimamente na importância da História, na necessidade de a ouvir, de a conhecer. Discurso de ocasião, sobretudo quando vindo dos políticos que, só agora, a propósito dos 50 anos do 25 de abril, dela se lembraram.  Esquecem-se que, se vivemos num país independente, a tudo o que é inerente ao 1º de dezembro de 1641, o devemos. Se temos um Estado Republicano é resultado de uma conjuntura associada ao 5 de outubro de 1910. Da mesma forma, se esquecem que o 25 de abril só foi necessário porque, 48 anos antes, existiu um 28 de maio. Forma de pensar diferente, possuíam os gregos que afirmavam ser a História mestra da vida. Mas sejamos mais claros, porque de ambiguidade já basta a que na última semana fez manchetes em muitos jornais, a propósito de uma das promessas do atual governo.

Este mesmo jornal, onde agora escrevo estas linhas, nascido como republicano dos 4 costados, assim o atestava o seu primeiro nome, “A Democracia”, alterado para “Notícias da Covilhã” em 1918, há cem anos atrás, fazia uma viragem à direita. Passou a apresentar como subtítulo, “semanário da comissão concelhia do centro católico”, e os seus editorais revelavam a ânsia de uma mudança de regime.

Em 1923, anunciava como “a ideia nova de que Portugal há muito precisava” o “Nacionalismo Lusitano”, que se proclamava o herdeiro do “Integralismo Lusitano” pois “o orgulho da Raça some-se no confuso da noite dos tempos… enquanto no Terreiro do Paço, em volta dos pauperados cofres da Nação, se agitam os interesses de partido, na satisfação de estomago dos dirigentes e das clientelas”. Discurso populista, voto de protesto, diríamos hoje. A 23 de setembro de 1923, o “Notícias da Covilhã” continuava o seu propósito, desta com um editorial que apresentava o título “A lição de Espanha,” onde se elogiava Primo de Rivera que, imbuído de ideais militaristas, marcadamente nacionalistas e autoritários, encabeçou o golpe militar 13 de setembro, de 1923. Neste artigo desafiava-se Portugal a seguir caminho semelhante, argumentando que “o mal que enferma a sociedade em Espanha é o mesmo que em Portugal.”  A 30 de setembro, escrevia-se que “a obra de útil e fecunda renovação é a reação salvadora que agita todos os países” e, em 11 de novembro, o título “Faltam-nos homens de ação” não deixa margem para dúvidas. Passaram mais dois anos e o discurso manteve-se. Em 28 de maio de 1926, dá-se o tão reclamado golpe militar que daria origem ao Estado Novo. O Notícias da Covilhã escreveria a 24 de julho de 1926, “o que não se quis pelo dever, consegue-se pela força”. O resto já todos conhecem.

Afinal, talvez a melhor forma de comemorar os 50 anos de abril seja refletir no que aconteceu há cem anos ou correremos o risco de ter de repetir o 25 de Abril…

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