Um grupo multidisciplinar de investigadores da Universidade da Beira Interior (UBI) está a desenvolver soluções para detetar substâncias nocivas em habitações remotas dos concelhos do Fundão e de Pinhel e recolher dados que permitam tomar medidas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
A intenção do projeto Rural Things é instalar nas residências que vão participar no projeto-piloto sensores de dióxido de carbono, de temperatura, humidade e de medição do gás radão para, através da recolha dessa informação conjunta, serem tiradas conclusões sobre a qualidade de vida dos habitantes e os municípios disporem de elementos para tomarem medidas “em tempo útil” que possam contribuir para a prevenção de doenças, como gripes, cancro do pulmão ou patologias associadas à concentração do gás radão.
A equipa conta com três professores do departamento de Engenharia Informática, um de Engenharia Civil e Arquitetura e uma de Física, para avaliar vários fatores em conjunto.
Segundo o coordenador, Bruno Silva, a investigação está direcionada para o desenvolvimento de um conjunto de soluções com recurso à Internet das Coisas (Internet of Things, IoT, na sigla em inglês”.
O responsável adiantou que na primeira fase do projeto esteve a ser feita uma parte do estudo e investigação das tecnologias e começaram a ser montados alguns protótipos para instalar em algumas casas localizadas em zonas dispersas dos dois concelhos.
“Essencialmente, este primeiro ano foi só apenas de investigação, análise de requisitos, engenharia de software, montagem, construção e desenho dos sistemas”, adianta Bruno Silva.
De acordo com o académico, o Fundão e Pinhel foram escolhidos por serem “concelhos rurais, com muitas zonas remotas”, como podiam ter sido objeto do teste a Covilhã ou Belmonte. Têm, no entanto, diferenças.
Enquanto o Fundão “é um meio rural urbano, com uma forte predominância tecnológica no concelho, Pinhel é um concelho muito rural, com pouco urbano e mais envelhecido”. “Essas diferenças na cultura das pessoas vão ser essenciais, porque vamos ter de estudar os hábitos das pessoas”, acrescenta o coordenador do Rural Things, projeto apoiado com 250 mil euros pelo Programa Promove, da Fundação La Caixa.
Bruno Silva explica que a principal motivação para avançar com o projeto prende-se com o despovoamento do Interior do país e a existência de casas rurais e remotas, muitas vezes de difícil acesso e onde não é fácil recolher informação.
“A segunda razão está associada ao gás radão. Nós estamos na zona vermelha do gás radão, com uma população muito pouco informada sobre este problema”, realça o investigador, segundo o qual, “o simples hábito de abrir as janelas, de arejar as casas, pode prevenir” os efeitos deste gás.
Para monitorizar as condições em tempo real, vão ser instaladas em algumas casas os dispositivos. Bruno Silva diz que a escolha das habitações em cada um dos municípios, embora dentro das caraterísticas pretendidas, vai ser aleatória.
“Nós pedimos aos municípios de Pinhel e do Fundão que sorteassem, para já, 50 casas”, através da fatura da água. Depois é necessário contactar esses cidadãos para perceber se estão disponíveis para participarem nos testes-piloto.
O estudo sobre as condições de habitabilidade nestes territórios vai decorrer até 2025, altura em que se espera que existam conclusões e decisões tomadas para que se possa atuar sobre a qualidade de vida das pessoas. O professor do Departamento de Informática destaca ainda o envolvimento de parceiros sociais na região para encontrar respostas para problemas locais.