Foi-se o Europeu, a Copa América, regressa a Arábia Saudita. Estado totalitário, onde a diferença é proibida, a dissidência punida com a morte, e onde o dono daquilo tudo é, obviamente “senhor” dos mais importantes clubes de futebol que anualmente competem no “saudistão”, nome por que gosto de tratar a mais falsa e hipócrita liga profissional, em que tudo é fabricado à medida dos desejos do monarca do reino. O “el dorado” – sim, aqui tudo parece bordado a ouro – do futebol mundial, é hoje um viveiro de estrelas, umas mais cadentes do que outras, escolhidas pelo império, e pagas a pornográficos milhões de petrodólares para afirmar e animar a masculinidade do país. Ah… não, espera… algumas mulheres já podem ir aos estádios para assistir a jogos. E fazê-lo conduzindo o seu próprio automóvel. Oh… que maravilha… a ditadura árabe tem usado o futebol para melhorar a sua imagem, e nós, cá vamos andando, espectadores atentos, passivos e permissivos, do fenómeno. Como?! alimentando o sonho de tantos profissionais do jogo da bola que, pensando na sua felicidade, rumam aquelas paragens para sumptuosamente engrossarem a conta bancária. Muitos integraram as selecções dos seus países de origem, e após umas merecidas férias, voltarão ao reino das arábias, e de novo passearem as suas habilidades futebolísticas para gáudio de milhares de túnicas brancas que abanam nas bancadas, e de milhões que por esse mundo fora “compram o pacote”. Sem menosprezar o apreço que nutrem pela terra onde nasceram, que como é evidente, trazem “junto ao coração”. Compatriotas que andam lá fora a lutar por vidas mais dignas e justas.
Por estes dias registei com emoção o gesto de Francisco Geraldes, um futebolista que “passou ao lado de uma grande carreira” como tanto gostam de dizer os que só vêem sucesso, resultados e números, um menos compreendido para os “donos da bola”, e actualmente a jogar na distante Malásia. O futebolista do Johor FC exibiu no seu desconhecido campeonato uma “t-shirt” com a cara de Cláudia Simões, mulher que num triste episódio alimentado pelo ódio, e ocorrido há mais de quatro anos em Amadora, Portugal, terá sido alegadamente vítima de abuso de poder. No julgamento judicial acabou condenada a oito meses de prisão por ter mordido um agente da PSP. Sem juízos de valor… lá está… um jogador de outro campeonato, praticando outro futebol.