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“Escolas não precisam de paranoia classificativa”

Jorge Fael

Sociólogo

A publicação dos rankings escolares serviu uma vez mais para atacar a escola pública e alimentar o mito da superioridade do ensino privado. Convém lembrar que a primeira divulgação em Portugal deste tipo de rankings aconteceu em 2001, precisamente no mês em que o País de Gales anunciava que iria abandonar a sua divulgação.

Estes são instrumentos perversos, que em nada ajudam a escola pública, nem a melhoria da sua qualidade.

Para além de mistificadora e demagógica, a catalogação das escolas em boas ou más, melhores ou piores, reduzindo os indicadores de qualidade das escolas aos resultados dos alunos em exames, ocultando as diferenças de contextos socioeconómicos, informações que os privados recusam fornecer, ao contrário das escolas públicas. É de uma enorme injustiça para o trabalho desenvolvido em cada uma delas por docentes, não docentes e alunos, para além de confundirem a opinião pública e as famílias.

Como sublinhou a Fenprof, a propaganda em torno desta matéria – tão do agrado de colégios privados e de alguma imprensa que, à custa dos rankings, consegue amealhar muita publicidade paga pelos empresários do sector – dificulta o trabalho das escolas, em particular das que, encontrando-se em zonas de maior complexidade social, são rotuladas de piores. Tal rótulo não constitui um estímulo para essas escolas, antes as torna alvo de discriminação. Como tem sido afirmado por académicos, estes rankings constituem a imagem mais ‘liofilizada e ignorante’ que se pode ter sobre o que é uma escola.

Sendo sempre injusta a divulgação dos rankings, este ano é ainda mais perversa na medida em que os resultados considerados foram obtidos após meses de ensino à distância, ou seja, num contexto em que dispararam as desigualdades, com muitos alunos sem condições para acompanharem as aulas remotas, por falta de equipamentos, de acesso à Internet ou de apoio adequado para superar dificuldades, incluindo a falta de autonomia digital. Convirá acrescentar que esses são os alunos que não frequentam os colégios privados, que ocupam os primeiros lugares do catálogo, não só por falta de condições financeiras das famílias, mas, também, por neles serem recusados.

É por isso lamentável que o Ministério da Educação tenha disponibilizado os dados que levaram à elaboração de listas ordenadas das supostas melhores e piores escolas secundárias, associando-se a mais um dos muitos ataques que são desferidos a uma Escola Pública que, apesar disso, tem resistido a tudo e todos.

É evidente que não são os rankings que criam a desigualdade, mas visam perpetuá-la. Só quem defende a educação como um negócio pode defender o top de vendas, que é o ranking escolar, visando beneficiar não a escola privada, mas os donos das escolas privadas, os donos de algumas escolas privadas, principalmente os grandes colégios que conseguem selecionar os seus estudantes.

Ora do que as escolas precisam não é da paranoia classificativa, mas de uma política que, de facto, a defenda e promova a igualdade. Do que as escolas precisam não é de um ranking que compare e promova a competitividade, mas de uma política que faça com que todas as escolas do nosso País possam ocupar ex-aequo o primeiro lugar.

 

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