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“Toada breve sobre a Linha da Beira Baixa”

António Pinto Pires

Professor

Calaram-se os deuses com a chegada de Zeus ao Olimpo, isto é, em 1891 o cavalo de ferro irrompeu pelas planuras da Beira Interior quebrando o isolamento de um interior que, aliás, não diferia em nada do panorama do resto do país, incomunicável, onde apenas as vias fluviais, ou as tardas e outras parcas vias de comunicação permitiam alguma comunicação. Por esse tempo a Europa da linha da frente já avançava a todo o vapor por entre uma revolução industrial na senda da inovação que se tornou imparável.

Enquanto isso, os nossos monarcas deleitavam-se entre altas caçadas nas campinas alentejanas. O povo, esse, vivia um “ram ram” tardo e lento e o dito progresso foi chegando, apoucado, sobretudo nos enormes latifúndios agrícolas, recorrendo ao caminho de ferro como meio de escoamento fundamental de bens e serviços de todo o tipo. A Regeneração permitiu que esse curso letárgico se invertesse, nas antenas do Douro, as linhas que receberam os nomes dos rios que as ladeavam a abando por ser as mesmas Sol de pouca dura. Aliás, a linha da Beira Baixa acabou por passar por essa provação na década de 60 do século XX, tal era o desinvestimento de que ia sendo alvo, não só esta linha, mas quase todas as outras. Faltava o fator planeamento. O país não apresentava um plano consistente para este meio de transporte. Assim como na rede de viação o panorama não era mais animador, fosse de comboio ou de automóvel, para se chegar da Covilhã a Lisboa, o tempo de percurso, nunca era inferior a 6/7 horas.

O século XXI trouxe finalmente esperanças já que esta linha havia mais de uma década que estava encerrada ao tráfego entre a Covilhã e a Guarda. À Europa e o País dávamos uma péssima imagem, mais uma vez. As obras na linha da Beira Alta foram o mote determinante para que se ultrapassasse esta letargia e houve que reabrir a Beira Baixa, e em força no que estava encerrada para que a na Beira Alta se pudesse avançar. E assim tem sido. Na Beira Alta lá prossegue na saga da inovação embora com cerca de dois anos de atraso.

Porém, a renovação na Beira Baixa ficou muito aquém do desejado se atendermos aos milhões ali investidos. Pois vejamos; a linha foi preparada para o serviço de mercadorias, o que exige um raio de curvas diferentes, o qual causa um desgaste menor na via. É óbvio que os comboios de passageiros beneficiam com isso, mas tal não deixa de ser questionador sobretudo nas linhas vocacionadas para o serviço de passageiros, como é o caso de linha da Beira Alta, onde vai haver um retrocesso nas velocidades. Mas o mais caricato da questão, foi o facto de não se ter retificado em nada o traçado da Beira Baixa.

Registe-se, porém, que o futuro desta linha vão ser as mercadorias. Incompreensível, é o atraso que se verifica na eletrificação do trajeto Vilar Formoso-Salamanca preso por arames, um péssimo exemplo para a salvaguarda das questões ambientais, ao lado de uma rodovia que assiste diariamente ao circular de milhares de viaturas em direção à Europa!

Sem dúvida que os lobbies não são alheios a esta realidade. Seria bom que atentássemos no exemplo da Suíça, onde existem corredores exclusivos para a camionagem ser transportada sobre carris.

Regressando à questão do traçado, sobretudo nos hiatos Gardunha e eixo Ródão- Belver, só aí, além de outras pequenas correções, retiraríamos ao tempo de percurso Covilhã- Lisboa, qualquer coisa como uma hora ou mais. Facto já aqui bastas vezes referido.

Em jeito de conclusão. Os que amam o planeta tomarão o comboio! O caminho de ferro comporta aspetos fundamentais para dar resposta aos desafios energéticos e climáticos atuais e futuros, podendo ser complementado com os meios de deslocação não poluentes, caso das bicicletas, compatíveis com a preservação do ambiente e a necessária redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Apesar das pregações de Frei Tomás continuamos a acreditar, e em mais um aniversário, continuamos a clamar, viva a linha da Beira Baixa.

 

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