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O design mostrou-se na rua

Exposição “Design Encaixa” foi mediadora entre alunos e empresas, entre o património industrial da cidade e a apresentação de soluções para o futuro, assentes na sustentabilidade

De auscultadores nas orelhas e telemóvel em riste, Raquel Grilo, aluna do mestrado em Design de Moda, de 22 anos, aproveita para fotografar o pormenor da manga de um casaco presa com botões. É uma das peças exibidas na exposição “Design Encaixa”, mostra que esteve patente até esta quinta-feira na Praça do Município, no âmbito da terceira edição da Covilhã Semana Criativa.

A intenção foi apresentar uma mostra “dentro de caixas, mas fora da caixa”, que trouxesse para a rua o design, para assim ser “mais fácil interpelar a comunidade”, referiu, no Dia Municipal da Cultura, 8, a vereadora com o pelouro, Regina Gouveia.

Foi o que aconteceu com Raquel Grilo, que estava de passagem e parou quando se deparou com a exposição, pela curiosidade do que ia encontrar e para “fotografar pormenores para inspirações futuras”. O contacto com a inovação fá-la lembrar que, ao contrário do que por vezes tende a pensar, “claramente, ainda não se fez tudo”.

“Ter uma exposição num espaço público, de passagem, valoriza e desperta a curiosidade das pessoas. É importante aproximar as pessoas das diferentes perspetivas do design”, considera a estudante.

José Teixeira, 76 anos, antigo bancário, andava pelo Pelourinho e aproximou-se das montras em madeira nas laterais e vidro atrás e à frente para dar a conhecer cinco ideias concebidas em articulação entre cinco escolas e empresas do concelho e as dez caixas, em tamanho menor, com a exposição de trabalhos de alunos da Universidade da Beira Interior (UBI).

“É bom que esta gente jovem sinta a importância que tiveram os lanifícios e incorpore o que é novo nos seus trabalhos”, realçou o ex-bancário, ao lado da mulher, a observar as propostas apresentadas.

Parceria “valoriza aprendizagem” 

Mas a “Design Encaixa” também pretendeu juntar alunos com profissionais e apresentar soluções conjuntas, uma componente “didática” enaltecida por Regina Gouveia, segundo a qual se pretendeu fazer “uma homenagem à cultura local, que o design reinterpreta”, assim como aproximar a comunidade à cultura do design e “valorizar o design da Covilhã”.

Leonor Santos, 17 anos, aluna da Escola Campos Melo, integrou o grupo que colaborou com a empresa Tecnat e, através de materiais que sobraram, em forma de novelos de lã, encaixados uns nos outros, formaram novas peças de mobiliário.

A parceria “valoriza a aprendizagem”, considera, por o design industrial ser uma possibilidade a seguir para alguns e terem tido a oportunidade de conhecer esse universo mais de perto.

Participar na Covilhã Cidade Criativa “abre horizontes” e “é gratificante”. “Sentimo-nos envolvidos e também aprendemos”, acentuou a estudante, que destacou a diferença de fazer a exposição na rua, para “aproximar as pessoas da arte” e permitir que “toda a gente se possa identificar com alguma peça”.

Madalena Vasconcelos, 16 anos, do Curso Profissional de Multimédia da Quinta das Palmeiras, diz que da interação com a WD Retail, no âmbito dos Desafios Criativos, os alunos “aprenderam mais e mais técnicas de trabalho” e manifesta-se satisfeita por terem concebido uma ideia do grupo.

Ao lado, Guilherme Paiva, explicou que a empresa covilhanense ajudou no 3D e montou os painéis onde projetaram as imagens do espaço multifuncional, com uma cúpula inspirada nas “bolas” das torres na Serra da Estrela, alimentado por energia solar, e a pensar num espaço de estudo e convívio que os alunos possam utilizar fora da escola, e que gostavam de poder executar em espaços verdes, como o Jardim do Lago.

Nas restantes caixas, a Escola Quinta da Lageosa, com a Graph & Co, apresentou a Seed Box, com o objetivo de promover a reflorestação sustentável, incentivando cada pessoa a plantar uma árvore autóctone e a contribuir para um futuro mais verde.

A Escola Frei Heitor Pinto, com a ajuda da Joalpe, concebeu novos cacifos usando o design biofílico, através da integração de elementos naturais, como a madeira e plantas, para “trazer a natureza para dentro da escola”.

A Escola Profissional de Artes da Beira Interior colaborou com a Gigarte para criar uma campanha de comunicação a pensar na integração, na multiculturalidade e na diversidade.

A curadoria da exposição foi de Vasco Pinho, que destacou o interesse em juntar estudantes e profissionais nestes projetos.

Exposição na “grande montra da cidade”

Henrique Gigante, da Gigarte, elogia a dinâmica implementada, de levar os alunos para o ambiente empresarial e que os estudantes tivessem trabalhado como a empresa faz quando desenvolve uma campanha de comunicação publicitária ou de ativação de marca.

“Acho importante. Estão à beira do ensino superior e, para quem está com dúvidas sobre o seu futuro, é uma mais-valia para perceber o que é a área, se é o que querem explorar, descobrirem caminhos que desconheciam e poderem dissipar dúvidas”, realçou o empresário, que destacou a importância de os trabalhos terem ficado expostos uma semana “na grande montra da cidade”.

Professor na Escola Quinta das Palmeiras, João Garcia afirmou-se surpreendido com a curiosidade dos alunos e com a forma como responderam ao desafio, tentando comportar-se como uma empresa e simular um contexto profissional.

“O nosso objetivo é mostrar que nós conseguimos criar algo através dos nossos alunos”, acentuou o professor, satisfeito com o resultado e que gostava de agora ver a ideia ser materializada e posta à disposição dos covilhanenses.

A terceira Covilhã Semana Criativa, com o tema “A cidade e o design”, abriu no Dia Municipal da Cultura, que assinala o dia em que a Covilhã passou a integrar, na área do design, a rede de Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 2021.

Durante uma semana houve exposições, concertos, visitas orientadas, cinema, performances, palestras, oficinas práticas e um desfile de moda com materiais reaproveitados.

Valorização da arte

Regina Gouveia sublinhou que o design está em quase todo o lado, das ruas aos espaços de lazer e de trabalho. “O design já tem muito valor na nossa cidade e os covilhanenses devem valorizar essa realidade”, acrescentou.

“Este evento já se tornou num marco no calendário anual e é talvez um dos que melhor materializa o compromisso coletivo que assumimos com a valorização da arte, da inovação e da criatividade”, realçou o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira.

O autarca considera que a primeira edição permitiu perceber o “imenso potencial criativo por explorar”, aludiu à programação “ainda mais rica e diversa” deste ano, com o intuito de ampliar horizontes, e vincou que a Semana Criativa “reflete o compromisso de continuar este caminho e consolidar o nosso município como um verdadeiro polo criativo e cultural centrado no design”.

Vítor Pereira manifestou o desejo de que o evento seja uma fonte de inspiração, de desafio e que da Semana Criativa resultem “novas ideias, novas parcerias e, sobretudo, uma renovada vontade de continuar a transformar a Covilhã”. “Que continuemos a afirmar em pleno a nossa presença no mapa do mundo do Design”, continuou.

José Páscoa, vice-reitor da UBI, entidade parceira, enalteceu a liberdade criativa dada aos alunos, para que possam avançar para a “inovação disruptiva”.

A vice-presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, Anabela Freitas, louvou o trabalho de reinventar, mas mantendo a autenticidade e as raízes.

Na terça-feira, 12, após o fecho da edição do NC, foi apresentado o programa da Trienal Internacional de Design da Covilhã, que se realiza entre 21 de março e 21 de junho do próximo ano.

 

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