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NA GALHOFA

"Os portugueses vivem em permanente representação, tão obsessivo é neles o sentimento de fragilidade íntima inconsciente e a correspondente vontade de a compensar com o desejo de fazer boa figura, a título pessoal ou colectivo"Eduardo Lourenço, Filósofo (1923-1 de Dezembro de 2020)

Lourenço, o filósofo fazia a nossa ” radiografia” com aquele olhar de atenção ao que por aqui se passou, e deixou traços vincados na construção do ser português. Curtamos também nós, um pequeno visionamento sobre o ano que ora termina. Às arrecuas como diz o povo, andando para trás no tempo, e percebendo esta obsessão tão nossa de dar nas vistas, de nos pormos em bicos de pés e gritarmos; “Somos nós, somos os melhores”! E do lado de fora, olham-nos com desdém e riem como hienas. Também nós acabamos o ano a rir porque os bombeiros foram para a rua gritar, e fogo quase quiseram pegar. Ninguém os obrigou, mas eles foram. A chacota foi geral, quando uns “filhos da mãe” abriram janelas e se puseram a mostrar o que de pior têm para dar. Antes batessem em latas, como no poema de Mário de Sá-Carneiro, que o fim estivesse perto, e nós então rompêssemos aos saltos e aos pinotes, “dilacerássemos” as criaturas, e déssemos graças porque bastou. Chegou. É só rir, ao vermos palhaços e acrobatas que se acotovelam no Parque Pintasilgos em Olivenza, anunciando aos viejos amigos, que está chegando o Circo Portugal. À frente do desfile segue o ministro dos ataques. Ao bom senso e à coerência. O que equivale a lembrar, como de há muito para este novo tempo, os imbecis continuam com lugar marcado na política.

Esses, e os militares, que procuram palco reservado. Afinal que tempo vem aí, senhores?! Será chuva, será gente, não, foi mesmo um parágrafo em jeito de rodapé que deitou um governo abaixo. Coisa quase nunca vista. De maioria absoluta. Coisa rara. O líder não foi de modas, arrumou as suas tralhas, abandonou o projecto e rumou à Europa dos milhões. Tipo treinador de futebol. Entre memes, selfies, emojis e recados vários, este foi definitivamente o ano em que o país apareceu diariamente transcrito nas redes sociais. Useiro e vezeiro na publicação de mentiras, o líder do gang abriu fogo a tudo o que mexe, até mesmo ao Presidente da República, a quem acusou de traição à pátria. A valentia murchou no parlamento, o país ignorou o dislate e mais tarde gargalhou quando o rabo da figura teve assento no Conselho de Estado. Este foi também o ano em que nasceu um novo programa de televisão. Dá pelo nome de Comissão Parlamentar de Inquérito, e tem a particularidade de criar emissões “non-stop”. É o país sintonizado no Big Brother da política. No célebre “Caso das Gémeas” brasileiras, os trabalhos estão longe do fim, e devem ser prolongados, até que elas “virem” actrizes da Globo. Por cá, continuamos a assistir aos próximos episódios da nossa telenovela “Na Galhofa “.

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