Carlos Madaleno
Historiador
Em 1902, Júlio Cardona fundou a Escola Nacional de Música, juntamente com outros grandes nomes da área musical como Larcher, Anselmo de Sousa e Luiz Rodrigues e os professores Guilherme Ribeiro, Mata Júnior, e Hernani Torres. Desta escola fazia parte uma orquestra e um orfeão. Possuía aulas de música e as diversas disciplinas ministradas em conservatório. Nesse mesmo ano é criada a escola de Música do Real Instituto de Lisboa, tendo por inspetor Júlio Cardona. Ali, este era ainda professor de rabeca e dirigia a orquestra daquele instituto composta por sessenta músicos. Ainda, em 1 de outubro, do mesmo ano, fundou com Augusto Morais Palmeiro, José Gonçalves Magalhães, Artur Manuel Duarte, Filipe da Silva e Júlio da Silva o “Sexteto do Gymnásio”, um grupo musical dos mais conceituados do país.
Ter-se-á Iniciado, igualmente em 1902, na Maçonaria, na Loja José Estevão, afeta ao Grande Oriente Lusitano, recebeu e adotou o nome simbólico do célebre compositor Richard Wagner, pertenceu, depois, à Loja Evolução II, da qual foi fundador e Venerável Mestre, e à Loja Gil Vicente, todas de Lisboa. No Catálogo da biblioteca do Grande Oriente encontramos composições musicais com versos de Luís da Matta e música de Júlio Cardona, designadamente, “Solidariedade”, “Liberdade”, “A Sementeira” e o “O Auto do Progresso”.
Em 1909, a 11 de fevereiro, Júlio Cardona casou com Elisabeth (Bella) Bensimon, nascida a 6 de janeiro de 1888, no Pará, Brasil. Era filha de brasileiros, de origem hebraica, que fixariam residência em Lisboa, Jacob Bensimon e Esther Bendohan Bensimon. Deste casamento nasceram três meninas, Luna, Esther e Elisabeth. Bella Bensimon tinha estudado piano no Conservatório Nacional, onde concluíra os estudos com distinção. Neste mesmo ano, Júlio Cardona realizou uma digressão pelo Brasil, atuando em várias cidades como, Rio de Janeiro, em Belém, no Pará, em Manaus, na Baía, e em Pernambuco, acompanhado pelo pianista Hernâni Torres.
Em 1911, em pleno período pós-revolucionário, Cardona empenha-se em dar novo impulso ao movimento sinfónico, colaborando na fundação e organização da orquestra de Lisboa que ele próprio viria a dirigir. No ano de 1915, de janeiro a março, júlio Cardona e Alexandre Rey Colaço apresentaram a integral das sonatas para piano e violino de Beethoven, no Salão do Grémio Literário, em Lisboa. Constituiu um momento importante para a difusão do repertório violinístico em Portugal. Ainda em relação à obra de Beethoven podemos referir que Júlio Cardona com Eduardo Pavia de Magalhães, Cunha e Silva e João Passos formaram um quarteto responsável pela primeira execução integral dos quartetos de Beethoven em Portugal. Este trabalho da difusão da obra de Beethoven permitiu-lhe receber um louvor atribuído pelo ministro da instrução pública.
Em 1919, foi nomeado diretor artístico da Sociedade Nacional de Música de Câmara, no ano seguinte, funda a primeira orquestra feminina “d´Arco” em Portugal e, em 1929, dirige a Orquestra Feminina de Lisboa.
Foi presidente da direção da Associação de Classe de Músicos Portugueses e vogal da Liga Nacional de instrução. Recebeu várias homenagens, durante a vida, de que se destaca a do Sindicato Nacional dos músicos a 28 de maio de1942. Viria a falecer em 2 de abril de 1952.