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“Avanço do IC6: por que não fechá-los em Conclave?”

António Rodrigues de Assunção

A história é real, conta-se em poucas palavras e serve de mote para o assunto em epígrafe. Em 1271, com a morte do Papa Clemente II, o Vaticano entrou na situação de «Sede Vacante», que é um período de tempo até que novo papa seja eleito pelos cardeais. Decorridos dois anos e meio e já fartos de esperar pelo anúncio de novo Pontífice, em Viterbo, cidade onde decorria o processo de eleição, o povo e as autoridades locais decidiram fechar os cardeais eleitores ameaçando-os de morrerem à fome caso não chegassem rapidamente a uma decisão. A chantagem acabou por surtir os efeitos pretendidos. Este método ainda hoje é aplicado, com novos contornos, com os Cardeais fechados «com Chave» na Capela Sistina, para elegerem o novo sucessor de Pedro.

Vem esta história verídica a propósito da construção do Itinerário Complementar IC6, que deverá ligar a Covilhã, algures na A23, a Coimbra e, portanto, ao litoral centro. O IC6 está parado desde 2010 em Tábua, mas a Assembleia da República tratou de inscrever a continuação da sua construção no Orçamento de Estado para 2025. Uma boa notícia não só para a Covilhã mas para toda a vasta região do Interior Centro, que abrange os territórios das antigas províncias da Beira Alta e da Beira Baixa, podendo, inclusive, ir até à Raia de Espanha, em Monfortinho. A bondade da obra não deixa dúvidas a ninguém e só trará benefícios, uma vez concluída integralmente, aos ditos territórios e às suas populações, num Interior abandonado de décadas e até de séculos. De facto, graças a outros dois Itinerários Complementares, o IC7 e o IC37, em toda a corda montanhosa da Beira Alta, alguns polos de desenvolvimento como Oliveira do Hospital, Tábua, Seia e Gouveia, com ligação não só á Serra da Estrela mas também à A25 e por esta até Salamanca, beneficiarão desta rede viária complementar, assim potenciando os seus recursos naturais, actividades industriais e o Turismo. Quanto aos territórios da antiga Beira Baixa, nem será preciso expandir aqui os grandes benefícios que advirão, assim o projecto avance e não venha a estancar na Folhadosa. É claro que cabe aos responsáveis políticos e às forças da sociedade civil locais fazerem a sua parte, pois quando se trata do Interior as coisas não caem do céu, como o demonstra a História.

Do lado de cá da Serra da Estrela, algo tem vindo a ser feito, no campo dos estudos desta matéria. É o caso, no concelho da Covilhã, da ADERES, uma Associação dedicada ao Desenvolvimento Regional. Esta agregou a si, ao que se sabe, a UBI, Associações Empresariais e figuras locais e até regionais. Mais recentemente, neste mês de Dezembro, a Assembleia Municipal, por proposta do Grupo do PS, criou uma Comissão composta por um deputado municipal de cada partido ali representado. Objectivo: o mesmo que tem vindo a ser prosseguido pelo grupo da ADERES. Perante isto, e sem retirar um pingo de legitimidade ao direito de associação e de criação de Comissões, cabe perguntar: para quê duas Comissões ou Grupos de Trabalho, sendo o objectivo estratégico o mesmo: fazer avançar o quanto antes o IC6? Havendo já uma entidade no terreno e com algum trabalho já feito e até com uma proposta de estender o IC6, através da sua ligação rodoviária ao IC31 que haverá de ligar Castelo Branco a Monfortinho e depois, numa rodovia espanhola, até Moraleja, Espanha. Não seria mais sensato, porque mais proveitoso para o Interior, encetar contactos e negociações até se conseguir a fusão numa só das duas Comissões? A verdade é que nem sempre o bom senso prevalece, assim se retirando parte da razão a Descartes que doutrinava que “o bom senso é a coisa mais bem distribuída entre os humanos”…Infelizmente não é, e no caso dos políticos parece que, ás vezes, ainda é pior.

Com tudo isto, regressemos aos cardeais em Viterbo, cuja única missão era eleger um novo papa. Mas, em vez de unidos, os homens de Deus estavam desunidos, divididos em grupos, grupinhos, quiçá comissões. De certo modo como agora aqui na Covilhã, na questão do IC6. E não se deve esquecer, por ser verdade, que se aproximam eleições, tal como em Viterbo se iria eleger um Papa…E não deixa de ser curioso que, desta vez, a oposição camarária não deixou de aceitar a proposta do PS, fazendo-se representar, claro, na referida Comissão.

Quem vai ganhar? Assim, de certeza que não será o Interior. E do Terreiro do Paço aqui se ouvirão as gargalhadas de gozo dirigidas a certos políticos que se fartam de criticar os Governos pelo seu abandono do Interior e afinal…é só divisões nas bases quando se trata de se unirem para o defenderem.

O remédio? Desculpem, mas não resisto: fechá-los em Conclave. Até que se entendam.

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