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Jovens alertam para invisibilidade da mulher na toponímia da cidade

Grupo de 40 estudantes afixou placas com nomes de mulheres em 25 ruas da Covilhã

Rua das Mulheres Operárias. Não existe, mas é uma das propostas de um grupo de jovens que na noite de sexta-feira afixaram em 25 ruas da Covilhã cartazes com um grafismo semelhante às placas toponímicas para alertar para a ausência de representatividade da mulher no espaço público, para a sua invisibilidade e para convidar à reflexão sobre as desigualdades de género.

Na sexta-feira, 17, várias artérias da zona central da cidade apareceram com placas alternativas junto à identificação toponímica das ruas, uma intervenção dos ativistas do Coolaboratório, grupo de jovens que se juntam na cooperativa de intervenção social Coolabora e desenvolveram a campanha para chamar a atenção para os nomes das vias na cidade, onde se destaca a ausência de personalidades femininas.

“É apenas um exercício, pois não vamos mudar nomes de ruas com dezenas de anos, mas é um exercício que é também de cidadania”, explicou Rosa Carreira, a coordenadora do projeto, segundo a qual “a invisibilidade das mulheres manifesta-se de muitas formas e os nomes atribuídos às ruas revelam escolhas políticas que reforçam a hegemonia masculina”.

Estudante de 20 anos, Catarina Pires lamentou que nas zonas centrais e nobres da Covilhã não haja uma única artéria com nome de mulher, o que “ilustra claramente a invisibilidade das mulheres nos espaços públicos mais significativos”.

“Esta ausência não é apenas um reflexo do passado, mas também um problema atual que perpetua a invisibilidade das mulheres e a falta de reconhecimento das suas contribuições para a sociedade”, referiu Catarina Pires.

Os jovens do Coolaboratório criaram as placas, a maioria removidas nos dias seguintes dos locais onde foram afixadas, e deram-lhes nomes de mulheres locais, mas também de outras que lutaram pela liberdade, trabalhadoras, mulheres invisibilizadas ou que enfrentaram opressões, adiantaram ao NC.

Francisco Oliveira, 20 anos, frisou que a intenção não foi cobrir toda a cidade, onde admitem que exista alguma rua que fuja à regra em alguma zona periférica. “Quisemos mostrar que as ruas são quase todas a homenagear homens. Tivemos o cuidado de não mudar nomes de ruas que assinalassem eventos ou grupos, como a Rua dos Combatentes ou a Avenida 25 de Abril”, sublinhou o estudante.

Junto à placa da Rua do Comendador Mendes Veiga foi colocada uma outra, com o nome Rua Rosa Veiga, industrial dos lanifícios.

Outras aludem à Rua Maria Lurdes Parente Silva, presa política da PIDE; Rua Adelaide Cabete, médica; Rua Carolina Beatriz Ângelo, médica e a primeira mulher a votar em Portugal; Rua Celeste Caeiro, que distribuiu os primeiros cravos na revolução do 25 de Abril; Rua Maria de Lurdes Pintassilgo, primeira-ministra do V Governo Constitucional ou a Rua de Todas as Mulheres.

“A representatividade é fundamental e as autarquias têm um papel central nos processos de inclusão, incluindo os simbólicos. Esta campanha foi criada para promover uma reflexão crítica sobre a invisibilidade das mulheres e a necessidade de igualdade”, enfatizou Thaís Marcon.

Na ação estiveram envolvidos cerca de 40 jovens, que criaram 29 placas distribuídas por 25 artérias numa noite de frio intenso e de muito vento. Embora o resultado seja perene, até porque muitas das imagens já desapareceram dos locais onde foram afixadas, os ativistas esperam que a atividade, simbólica, leve a comunidade a pensar, através deste “exercício hipotético”, sobre a forma como se perpetuam desigualdades

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