Consideram-se Deuses, por si próprios. Primeiro Buda, depois Cristo, nos anos 80 o japonês Shoko Asahara criou um culto, que rapidamente degenerou em seita, e inicialmente se dedicava a propagar uma visão apocalíptica do mundo, assente na teoria de que acabaria na sequência de uma Terceira Guerra Mundial, conduzida a partir dos Estados Unidos. Ganhando o estatuto de religião a que ascendeu, fruto de uma “passadeira” que o governo de Tóquio lhe estendeu, Verdade Suprema, assim se chamava em português a organização criminosa, passou a ter milhares de seguidores no Japão, mas também na Rússia, e sob a capa de culto religioso, começou a matar. Justiça “divina” pelas próprias mãos. Antes que outros o fizessem. Em 1995 a seita lançou gás sarin no metro de Tóquio provocando milhares de vítimas, como que “antecipando o fim do mundo”. Asahara descreveu o ataque como “uma tentativa sagrada de elevar as almas condenadas a um estágio superior de espiritualidade”. Tal como outros membros seria julgado e condenado, mas o Japão nunca mais foi o mesmo. Ora, parece haver afinidade, correspondência entre este “Deus” e o que hoje se auto-intitula dono do mundo. Como uma verdade absoluta. Também nada é como dantes, desde que um lunático e perigoso passou a lavrar decretos pela manhã, em eventos transmitidos em directo da Sala Oval para todo o mundo, para que nós, os seus milhões de parolos-seguidores possamos assistir.
São nove da manhã em Washington, a “Hora Trump” vai começar como a missa matinal para que o mundo se ajoelhe e agradeça por ter este paladino da verdade como mentor. Há neste movimento Maga um pouco de Verdade Suprema, não matando rápida e directamente com sarin ou antrax, mas fazendo-o aos poucos, decretando deportações em massa, decidindo tomar territórios alheios por ameaças económicas ou invasões militares, perdoando aos seus criminosos, chamando a si o poder de acabar com raças, etnias, comunidades. Cancelando a ajuda humanitária em países vulneráveis, tratando a ONU e o Tribunal Penal Internacional “abaixo de rafeiros”, continuando a negar as alterações climáticas, retirando-se em definitivo do Acordo de Paris, e propondo-se criar extensões do seu império pessoal um pouco por todo o mundo. Europa incluída, que demonstrando a impotente figura em que se tornou, parece abrir a boca de espanto com o “regresso” da América. Venham, venham… sentem-se e assistam, antes que o mundo vá acabar. Venham, é o “nosso senhor” a assinar e a decretar!