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“Um aumento de propinas traria consequências graves para os alunos”

Em entrevista ao NC, João Nunes, presidente da AAUBI, defende que subfinanciamento da UBI não pode ser aliviado com uma “solução imediata”. E recorda que hoje, o principal obstáculo para quem estuda é ter dinheiro para o fazer. Há quem chegue a abandonar os estudos

Depois de um primeiro mandato, decidiu avançar para um segundo e foi eleito. Qual a razão que o levou a querer liderar a AAUBI de novo?

O primeiro mandato foi um período desafiante, mas também muito enriquecedor. Conseguimos concretizar vários projetos e defender os interesses dos estudantes da UBI, mas percebemos que ainda há muito por fazer. Acredito que a continuidade é essencial para que as mudanças tenham um impacto duradouro, e foi essa vontade de consolidar o trabalho iniciado que me levou a avançar para um segundo mandato. Queremos reforçar a ligação entre os estudantes e a academia, garantir melhores condições de ensino e assegurar que os desafios que enfrentamos, como a acessibilidade económica ao Ensino Superior, sejam tratados com a seriedade necessária. Além disso, senti que a confiança da comunidade académica na nossa equipa se manteve forte, e isso deu-nos ainda mais motivação para continuar.

Focou, na sua tomada de posse, a questão do descongelamento das propinas. O que defende nesse âmbito?

O descongelamento das propinas é um retrocesso numa altura em que o Ensino Superior deveria tornar-se mais acessível e inclusivo. Durante anos, lutámos para que os encargos financeiros não fossem um entrave à formação dos jovens e conseguimos que as propinas fossem estabilizadas. Agora, com a possibilidade de um aumento, muitos estudantes poderão ver-se numa situação insustentável. O que defendemos é que o financiamento do Ensino Superior não deve recair sobre os estudantes, mas sim sobre um investimento público mais justo e adequado às necessidades das instituições. As universidades e politécnicos enfrentam dificuldades financeiras, mas a solução não pode passar por penalizar aqueles que mais precisam. Acreditamos que é possível encontrar alternativas, como o reforço de apoios sociais, maior investimento estatal e incentivos para que as universidades diversifiquem as suas fontes de financiamento sem recorrer ao aumento das propinas.

Teme que, no caso da UBI, o aumento das propinas aconteça, face ao subfinanciamento que a instituição sofre há anos?

Sim, é uma preocupação legítima. O subfinanciamento da UBI não é um problema novo – há anos que a universidade tem de gerir os seus recursos de forma limitada, o que afeta a qualidade dos serviços, das infraestruturas e da própria experiência académica. Um aumento das propinas pode parecer uma solução imediata para aliviar a pressão financeira da instituição, mas traria consequências graves para os alunos, especialmente para aqueles que já enfrentam dificuldades económicas.  O nosso compromisso é lutar para que isso não aconteça. Defendemos um reforço do financiamento público, que permita à UBI crescer sem comprometer o acesso e a permanência dos estudantes. Além disso, queremos que haja mais transparência na forma como os fundos são geridos, para garantir que qualquer investimento feito tenha um impacto real na qualidade do ensino e na vida académica.

Defendeu “inovação” nos serviços aos estudantes. O que está pensado?

Queremos modernizar a forma como os serviços académicos funcionam, tornando-os mais acessíveis e eficientes. Um dos nossos objetivos é digitalizar vários processos burocráticos, para que os estudantes possam tratar de questões administrativas de forma mais rápida e sem complicações desnecessárias.  Além disso, estamos a trabalhar no reforço do apoio psicológico, criando novas formas de acompanhamento para os alunos que precisem desse suporte. A saúde mental tem sido uma preocupação crescente, e queremos garantir que nenhum estudante da UBI fica sem ajuda por falta de recursos.  Outro ponto essencial é a empregabilidade. Pretendemos expandir parcerias com empresas e instituições para criar mais oportunidades de estágio e facilitar a transição dos alunos para o mercado de trabalho. A universidade deve ser um espaço de aprendizagem, mas também de preparação para o futuro profissional, e é nisso que queremos apostar.

Quais são, hoje, os principais problemas que se colocam a um estudante da UBI?

Os desafios que os estudantes enfrentam hoje são múltiplos e complexos. O primeiro, sem dúvida, é a questão financeira – muitos alunos e famílias têm dificuldade em suportar os custos da educação, seja por causa das propinas, do alojamento ou das despesas diárias.  Outro problema significativo é a falta de infraestruturas adequadas. Algumas salas de aula e laboratórios precisam de melhorias, e há uma necessidade de modernizar diversos espaços da universidade.  Os transportes também são uma questão crítica. Muitos estudantes deslocam-se diariamente para a UBI e enfrentam dificuldades devido à falta de transportes públicos eficientes e acessíveis. A mobilidade dentro da Covilhã nem sempre é fácil, e isso afeta a vida académica.  Além disso, a questão da empregabilidade preocupa bastante os alunos. Muitos terminam os seus cursos sem perspetivas claras de trabalho na região, o que leva a uma grande migração de talento para outras partes do país ou para o estrangeiro.

Há alunos a abandonar o Ensino Superior, aqui, por falta de dinheiro?

 

Infelizmente, sim. Apesar dos apoios existentes, há estudantes que acabam por desistir dos cursos porque não conseguem suportar as despesas associadas. O custo de vida aumentou e, para muitas famílias, ter um filho a estudar numa cidade universitária representa um grande esforço financeiro.  Esta situação é preocupante porque significa que estamos a perder talentos e a comprometer o futuro de jovens que, de outra forma, poderiam concluir os seus estudos e contribuir para a sociedade. Precisamos de mais apoios sociais, de um sistema de bolsas mais eficaz e de medidas que garantam que ninguém abandona o Ensino Superior por dificuldades económicas.

 

“Há quem tenha que trabalhar para pagar a renda”

O alojamento é hoje um dos pesos maiores para as famílias terem alguém a estudar. Como está a situação na Covilhã?

A situação do alojamento na Covilhã reflete um problema que se verifica em muitas cidades universitárias: a oferta não é suficiente para a procura e os preços continuam a subir. Há estudantes que têm dificuldade em encontrar quartos a valores acessíveis, e as residências universitárias, apesar de importantes, não conseguem dar resposta a todos. Este problema tem um impacto direto na vida académica dos alunos. Há quem tenha de trabalhar para pagar a renda, comprometendo o tempo disponível para os estudos, e há quem simplesmente não consiga arranjar um lugar para viver, o que leva a situações extremas, como abandonar o curso.

O que defende para fazer face à situação?

É fundamental que haja um investimento sério na construção e requalificação de residências estudantis, garantindo que mais estudantes possam ter acesso a alojamento a preços justos. Além disso, as políticas de arrendamento para estudantes precisam de ser repensadas, com incentivos para os proprietários disponibilizarem quartos a preços regulados.  Também defendemos que a UBI e a AAUBI trabalhem em conjunto para criar novas soluções, como parcerias com alojamentos locais ou mecanismos de apoio direto aos estudantes que enfrentam dificuldades.

Que medidas têm ainda em carteira para este mandato?

Para este mandato, temos várias medidas focadas no bem-estar e no desenvolvimento dos estudantes da UBI. Em primeiro lugar, queremos melhorar a comunicação entre a AAUBI e os estudantes, garantindo que as suas preocupações são ouvidas e que há um diálogo aberto e constante. No campo do apoio psicológico, uma área que consideramos fundamental, vamos intensificar os serviços de saúde mental, com o objetivo de garantir que todos os alunos tenham acesso a um acompanhamento psicológico adequado e sem obstáculos.

Um dos projetos mais relevantes que temos em carteira é a organização do Campeonato Europeu Universitário de Andebol 2025. Este evento trará uma enorme visibilidade à UBI e à Covilhã, e será uma oportunidade única para envolver os estudantes na organização e no apoio aos atletas.

E que mais?

Outro grande foco da nossa atuação será nas Jornadas Pedagógicas, um evento que visa promover o debate e a reflexão sobre o Ensino Superior, abordando questões pedagógicas que afetam a nossa comunidade académica. Além disso, queremos aumentar a oferta de atividades culturais e sociais, para que os estudantes tenham oportunidades de se envolver mais ativamente na vida da universidade, participando em eventos que reforçam o espírito de comunidade, como festas académicas, concertos e outras iniciativas culturais.  Por fim, vamos também trabalhar para fortalecer a representação e o contacto com as diversas secções da AAUBI, de forma a garantir que todos os estudantes se sintam representados e que as atividades da Associação sejam cada vez mais inclusivas e descentralizadas.  Estas medidas refletem o nosso compromisso com o bem-estar e a qualidade de vida académica na UBI, e acreditamos que, com elas, conseguiremos melhorar a experiência universitária para todos os alunos.

O que, em termos genéricos, acredita ser necessário para a UBI se afirmar ainda mais no panorama nacional?

A UBI já tem um prestígio crescente, mas para se afirmar ainda mais é necessário um investimento estratégico. A captação de mais estudantes, a criação de novas parcerias com empresas e a aposta na inovação e investigação são fundamentais. Além disso, é essencial garantir um ensino de qualidade, com infraestruturas modernas e uma forte ligação ao mercado de trabalho.

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