“Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa, nem se deixa governar”.
A frase é atribuída a Júlio César, imperador romano que terá encontrado por estas paragens uma indomável crença lusitana. Há também uma versão histórica que aponta na direcção de um tal general Sérvio Galba que por cá andava em missão de serviço, e que terá escrito ao seu chefe a queixar-se das dificuldades na conquista. Seja como for a ideia estava lá ainda Cristo não era nascido. Bem mais de dois mil anos depois, continua bem presente. Contudo há uma nuance fundamental. Não é o povo que não quer ser governado. Bem pelo contrário. A avaliar pelos combates de oratória tidos nas últimas semanas pelos novos imperadores da política, são as gentes comuns que não encontram quem as queira governar. Não foi assim há tanto tempo que Portugal parecia estar no “bom caminho “. Foi em Novembro passado que o governo da altura se entusiasmou com feitos próprios e, com a simpatia do maior partido da oposição, parecia capaz de bons voos. Eis senão quando a ave partiu uma asa, e veio por aí abaixo espalhando-se ao comprido. E na praça, a malta de olhos esbugalhados e de braços abertos indignando-se; “outra vez “?! É verdade. Estou a olhar para este quadro ainda antes da apresentação da moção de confiança, como se ela fosse um dado adquirido.
É domingo, chove muito, tarda a bonança. A situação diz que precisa de testar a confiança da oposição, e esta, aponta um único caminho possível. E não é o bom. Pelo menos para nós, que somos quem faz o país. A queda do governo não interessa a ninguém. Bom… talvez interesse a quem espera tirar dividendos, entenda-se votos e mais representação parlamentar com as eleições que se seguirão. Estou em crer, arrisco a certeza, de que nesse lote de esperançosos não se encontra o PS. Sobretudo este, o de Pedro Nuno Santos, a quem tem parecido faltar carisma na liderança. Aquele sentimento do “todos juntos” está longe de espelhar realidade. Este texto foi pensado, escrito e impresso na esperança legítima de que o Partido Socialista se abstivesse, e deixasse o governo ir pelo caminho que entendesse, remetendo para um inquérito parlamentar a dissipação das dúvidas relativas às actividades empresariais do primeiro-ministro. Insisto, creio que outro caminho terá um efeito boomerang nas hostes da principal força oposicionista, que enfrentará ventos contrários, e nesse sentido muita dificuldade em manter um voo seguro. Atentemos nas tendências. Até europeias. Nesta altura, umas eleições legislativas podem revelar-nos, aos verdadeiros portugueses de bem, surpresas muito desagradáveis. Finalmente, o “Zé”, aquele a quem todos gostam de se dirigir, desta feita não está virado para novo hiato. A malta cá do burgo quer tranquilidade e que os muitos problemas sejam resolvidos. Deixem-nos em paz. Queremos ser governados!