A cena passa-se ao fim da tarde. Num bar em Lisboa. Na barra, dois amigos partilhando episódios do quotidiano. Era sexta-feira de uma semana como outra semana qualquer preenchida com uma mão cheia de nada de acontecimentos verdadeiramente interessantes para o comum dos mortais que vão olhando para o que nos rodeia, à espera que de lá surja algo surpreendente. Um autêntico vazio. Mais um. Dirão os mais crentes, Trump tem um cabelo lindo, foi o próprio que o disse e isso torna-se lei, adora banhar-se num longo duche e isso mexe com os nossos sentimentos mais profundos. Naturalmente. Caramba, andam os americanos há anos a tentar contornar a válvula de segurança que controla a pressão da água que consomem em suas casas, e foi preciso o seu presidente tomar banho, para que com essa toma, finalmente fosse tomada uma decisão. Há que aliviar o caudal nos canos de Washington, quem diz os da capital federal, diz os de outros estados mais entupidos, e assim foi os tipos puderam começar a lavar-se como nunca o haviam feito e isso foi notícia em todo o mundo, estes jornalistas são uns exagerados, mas em Portugal por incrível que pareça foi tema bem alinhado nos vários serviços noticiosos para gáudio dos coleccionadores de decisões tomadas pelo novo idiota mundial. Para mim, pode ser um rosé Anima, Tears of Anima ali da região de Setúbal. E para ti o que vai ser? Talvez um branco Viognier. Escolha feliz! E para picar uns queijos daqui e dali para amaciar.
Começamos por aí a pôr a escrita em dia, estava mesmo a ver-se que a conversa ia parar aos debates. Aos quê?! Pergunta o meu amigo, aos debates políticos insisto eu que todas as noites estão espalhados pelos diversos canais de televisão, ao que o meu amigo como que de espanto e indignação atirou um: “mas tu achas que eu agora perco tempo a olhar para isso nem sei bem o que se passa quero lá saber aliás nós sabemos muito bem o que eles têm para dizer porque é o que andam a dizer há meses em alguns casos há anos, eu até já deixei de ver televisão.” Calei-me… bom não me calei e até acrescentei, eu não vi ainda qualquer debate e não tenciono assistir, não deixando contudo de entrar em processo de peroração para dizer bom mas não nos devemos esquecer que as eleições acontecem no dia seguinte ao da última jornada do campeonato de futebol que como bem sabemos dá de comer a muito mais bocas do que o resultado da cruz assinalada no boletim, ainda se fosse o boletim do Euromilhões agora esse quadro de miséria que nos apresentam. Nisto pousa um passarinho no ombro do meu amigo e eu digo-lhe tens uma pequena ave junto à orelha, eu sei confirmou dizendo, segredou-me vota em branco ou faz uma cruz gigante no papel eu soltei uma gargalhada e o pardal voou. Pedi mais um Anima, a conversa estava animada e o meu amigo alinha em mais um branco alentejano. Boa! E que tal uma ventresca de atum para acamar? Isso vamos nessa! E fomos não vos digo mais nada porque ao fim do terceiro copo ou seria o quarto já brindamos à abstenção e ao novo campeão. Neste texto fui poupado nas pontuações, foi corrido assim como quem diz deixando algumas vírgulas de fora, para que as possam colocar onde muito bem entenderem.
