“Aconteceu-nos tudo o que podia acontecer”. Foi assim que o presidente da Câmara de Manteigas, Flávio Massano, fez o balanço deste seu primeiro mandato à frente da autarquia, no qual, lembra, não teve maioria no executivo, encarou a pandemia, o grande incêndio de 2022, a catástrofe das inundações que se lhe seguiram, e o chumbo do orçamento de 2025 pela assembleia municipal. “Resolvemos alguns problemas de décadas. Não quero que me batam palmas, mas saio deste mandato de consciência tranquila” disse o autarca na última segunda-feira, 14, durante a reunião extraordinária do executivo em que as contas de 2024 foram aprovadas por maioria (com abstenção dos dois eleitos do PS e voto contra do vereador do PSD, Nuno Soares).
Do orçamento de cerca de 14 milhões, a taxa de execução andou nos 92 por cento, mas segundo o vereador do PSD, Nuno Soares, esse número, que “era expectável” não é o real. O social-democrata diz que, juntando a taxa das receitas de capital, na ordem dos 36 por cento, a taxa de execução baixa cifra-se em 88,5 por cento, mas do valor em causa, há três milhões que dizem respeito ao saldo de gerência de 2023, pelo que, contas feitas, a execução fica-se pelos 67,5 por cento, “apenas dois terços do que estava orçamentado”. Segundo Nuno Soares, do que havia para fazer em 2024, “pouco mais de um terço” foi feito, enumerando um conjunto de projetos que tiveram “zero de execução”, dando como exemplo o Centro de Ciência Viva de Montanha (antiga Fábrica do Rio), onde se realizou a reunião. “Este elefante branco onde reunimos hoje é um exemplo do que não foi feito” disse.
Pelo PS, que se absteve, o vereador Tomé Branco apontou duas obras que, diz, marcaram negativamente o mandato por não estarem no terreno: a praça central da vila e a habitação social. “Temos, nestas contas, indicadores positivos, mas sobretudo devido ao aumento das transferências do poder central” afirma.
Recusando as críticas, Flávio Massano disse que as acusações de que poderia ter feito mais, muitas vezes “são feitas de forma simplista”, garante que 2024 foi “o melhor ano” desde que tomou posse, com uma “das melhores taxas de execução dos últimos tempos”, em que se investiu, planeou, se realizaram inúmeras novas atividades e, ao mesmo tempo, se deixou a autarquia com boa saúde financeira. “Estou muito realizado tendo em conta tudo o que aconteceu durante o mandato. Seria difícil fazer mais do que fizemos” garante, enaltecendo o resultado líquido positivo de 2024. “Estão lançadas as bases para 2025 e para o futuro” afiança, acreditando que quase quatro anos depois Manteigas é hoje uma terra com um reconhecimento externo “mais visível” e uma qualidade de vida superior à que encontrou.
Sobre as contas de Nuno Soares, Flávio Massano lembra que os números “não dizem tudo” e até agradeceu o facto do vereador apontar diversas obras sem execução. “Falou de vários projetos e isso ajuda-nos. Não se fez, mas tivemos ideias. Podem não estar no terreno, mas para lá chegar é preciso um trabalho hercúleo” disse, dando como exemplo a habitação, que emperrou no IHRU e depois, num concurso público sem pretendentes. “Nós planeámos 38 novas casas e para isso é preciso coragem” garante. Flávio Massano acredita que o seu executivo teve o mérito de deixar projetos que se iniciaram e ficam para o futuro. “Estou muito tranquilo com o que fizemos, mas sabendo sempre que nunca se consegue fazer tudo o que queremos” garante.
O orçamento de 2024, o maior de sempre em Manteigas, chegou a ser classificado pelo autarca como “histórico” e “o melhor orçamento que já vi”, tendo entre as principais prioridades a construção de habitação a custos controlados, num total de 38 apartamentos, num projeto a levar a cabo até 2026, a revitalização urbana da vila, com a construção da praça central, a aposta na mobilidade, com transportes entre Manteigas e as freguesias, a criação de espaços de lazer, o apoio às famílias, a captação de empresas ou a aposta nos produtos endógenos.