A PORCARIA

“Ainda vamos a tempo de recolocar os preceitos da decência nas nossas escolhas fundamentais, e pormos na borda do prato, a violência, a ofensa, a mentira”

Se há-de ir para os porcos, comemos nós. Como quem diz comemos tudo, não sobra nada para os outros. Os outros são os porcos. É brejeiro, é de tasca, e uma forma de evitarmos as misturas. Ora o que hoje está a acontecer é que estamos mesmo a alimentar-nos daquilo que os porcos nos dão. Pior, estamos a comer na mesma pocilga, partilhando a gamela. Por mais figurado que seja o sentido, há assuntos que verdadeiramente não deveriam suscitar a nossa atenção, nem ser merecedoras de quaisquer letras que devêssemos juntar para a eles nos referirmos. Há temas que nos deveriam indignar, comportamentos que nos deveriam incomodar, posturas que nos deveriam enojar. E como é óbvio, os seus protagonistas. Criou-se uma dinâmica de maledicência e de incentivo ao ódio, de desprezo pelos mais vulneráveis, nunca vista em Portugal. Permitimos essa escalada. Num momento como o que vivemos – estamos a menos de um mês de nova escolha para o país – era bom que desta vez, optando pelo bem, nos deixássemos governar e percebêssemos de uma vez por todas que a ética e a educação, a compreensão e a bondade, são elementos fundamentais na composição da matriz, da estrutura de uma sociedade rica do ponto de vista humano, desenvolvida na aplicação dos direitos, tolerante na diversidade.

Porra, aquilo a que temos assistido nos últimos tempos, é o contrário disto tudo. Estamos todos a chafurdar no chiqueiro. Lembro-me bem de em miúdo na aldeia onde viviam os meus avós maternos, alimentarmos os porcos que eles criavam, muitas vezes com fruta podre, couves e outros legumes que já não serviam para nós comermos, e outros restos que em mistura com farelo, deitávamos aos animais. Com atenção e cuidado para não sairmos chafurdados do curral. É, hoje não temos tido esse cuidado. Bem pelo contrário, estamos enterrados até ao pescoço, porque os chamamos para a nossa mesa. Chegou o momento de dizermos Não! Mesmo não, ainda vamos a tempo de recolocar os preceitos da decência nas nossas escolhas fundamentais, e pormos na borda do prato, a violência, a ofensa, a mentira, o ressabiamento, a provocação e a desinformação, as faltas de educação e de civilidade. Não podemos permitir que nos acusem de corrupção, que nos ponham em causa, e ao mesmo tempo “abrirmos as pernas” para debatermos ideias, que aliás não existem. Não podemos tolerar que nos promovam processos judiciais, e fazer de conta que são gente como nós, que aceitamos convidar para a nossa sala, e sentarmos à nossa mesa. Não podemos conviver com quem nos insulta, nos tenta rebaixar, nos ofende. Não! Temos de rejeitar a mediocridade e a boçalidade. Recusemos os argumentos rasteiros, e o ódio que gente de baixo nível coloca nas suas acções, permanentemente, tratando mal tudo e todos, e que nós, sim, todos nós, temos validado, fingindo podendo estar no mesmo plano. Não! É tempo de dizer BASTA! Não quero porcaria.

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