Acabou se sagrar campeão do mundo de marcha atlética, em masters. Que significado tem para si?
Tem muito significado. Era um objetivo que eu queria tentar alcançar quando chegasse a este escalão. Não são os Jogos Olímpicos, mas para mim é muito importante, com todas as dificuldades inerentes a quem não é exclusivamente atleta. Não ter mais tempo para treinar e descansar. E ainda ter o horário normal de trabalho, mas em regime noturno.
O que é isso da marcha atlética?
É um “caminhar estranho”, como alguns dizem. É uma prova ou até podemos chamar de corrida, mas com duas regras específicas que fazem com que o atleta não possa correr. Tem de haver sempre um pé em contacto com o solo e quando vamos dar a próxima passada o pé, quando tocar no solo, tem de ter o joelho e essa perna esticados. Quem não cumprir, pode levar faltas de suspensão ou flexão. Normalmente isso acontece quando algum atleta está a ir demasiado rápido.
O que é ser um master?
É todo o atleta que tenha 35 anos ou mais. Depois, cada escalão tem a duração de 5 anos, ou seja, dos 35 aos 39 é o primeiro escalão, onde estão a competir os masters mais novos. Estas competições, em termos mundiais e europeus, têm a característica de não terem tempos/marcas de qualificação para um atleta se poder inscrever. Podem participar todos os que desejarem. Ainda participam alguns atletas que já estiveram em Jogos Olímpicos. O mais velho neste campeonato tinha 104 anos. É fantástico ver a forma física de alguns atletas mais velhos.
Sei que custeia tudo do seu próprio bolso. A Federação despreza o atletismo que não seja de elite?
Essa é a maior das dificuldades dos Masters: ter que pagar tudo ou tentar encontrar apoios. Não existem critérios de seleção. Acho que a Federação deveria analisar melhor estas participações. Não somos elite, mas representamos o País e damos nome a Portugal. Nesta competição estiveram cerca de quatro mil atletas e apenas seis portugueses, três deles medalhados, com um total de seis medalhas. Ouvimos quatro vezes o hino nacional. Pelo menos aos atletas medalhados acho que poderia ser pago o valor das inscrições, fornecidos os equipamentos e podiam também estipular um valor simbólico de apoio conforme o lugar do pódio em que ficassem. Ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio foi uma grande alegria.
Como vê a imposição de pagamento de uma licença para competir em provas amadoras?
Esta medida não foi bem explicada. A mim parece-me que o objetivo da Federação não era mesmo que andassem a pagar uma licença para competir, mas sim que as pessoas tentassem procurar um clube que as federasse, até porque o custo anual da tal licença iria ser mais caro do que se um atleta se juntar a um clube. Há provas em que o atleta só pode participar se estiver devidamente federado. Por outro lado, se a licença fizesse com que os atletas ficassem com o seguro desportivo, aí os organizadores de provas poderiam conseguir baixar os custos de inscrição, pois já não iam ter que fazer seguro para a realização da prova. Por isso o ideal era que todos fossem federados e que não se assustassem com a palavra federar.
Faz atletismo por hobby, mas trabalha de noite. É difícil conciliar?
É um hobby que já dura há 22 anos. Tento sempre conciliar da melhor forma. Já cheguei a fazer treinos bi-diários, sair do trabalho e ir treinar, depois dormir, acordar e ir treinar novamente, depois trabalho e novamente. Mas não é uma rotina que consiga manter regularmente, também devido às minhas funções de treinador e dirigente.
Como treinador, como vê a região em termos de jovens valores? Há gente para dar “o salto”?
Desde que cá estou, 2008, tenho visto sempre jovens com potencial e que se destacam a nível nacional. Na altura, o Samuel Barata era um jovem e agora é o melhor atleta nacional nas corridas de meia maratona e maratona. Conseguiu o grande feito de estar nos Jogos Olímpicos. Temos também a Laura Taborda, que está também no topo do atletismo nacional. Como eles, haviam mais, mas por uns motivos ou por outros alguns foram desistindo. É uma modalidade individual. Para dar o salto, muitas vezes não é preciso o talento. É preciso é muito trabalho, dedicação e disciplina. Normalmente, os que têm mais talento acabam por desistir mais cedo.
Sendo natural dos Açores, já está radicado na Covilhã há 15 anos. Porque ficou? Já sente a cidade como a “sua” terra?
Já são muitos anos. Tenho quase metade dos anos de vida em cada cidade. Vim para estudar, tirei licenciatura e mestrado em Ciências do Desporto e tenho o Doutoramento parado. Depois, juntamente com o desporto, fui criando raízes e ligações. Também tirei as formações de treinador, tenho o Grau II e acho que tenho dado um bom impulso ao desporto da cidade e da região aos vários níveis, local, distrital, nacional e até internacional.
Quais as próximas metas, em termos competitivos, para o resto do ano?
Para esta época tenho, a nível nacional, a Taça de Portugal em 10km, o Campeonato Nacional de Clubes de pista ar livre da 1ª divisão em 5000m, o Nacional de pista ar livre de Masters e acabo dia 2 de agosto com o Campeonato de Portugal de pista ar livre em 10000m, onde estou a apontar fazer a melhor marca da época. Depois, em outubro, o Campeonato da Europa de Masters em pista ar livre, que já vai fazer parte da próxima época desportiva e será também outro ponto alto de 2025. Quero disputar os primeiros lugares.
PERFIL
Nome: Amaro Jorge de Sousa Teixeira
Idade: 35 anos
Profissão: Recepcionista no Sport Hotel – Treinador de Atletismo/Trail no Penta Clube da Covilhã
Clube: Atlético Clube da Póvoa de Varzim (Só Atleta) – Treinador no Penta Clube da Covilhã e também de alguns atletas de outras equipas
Destaque: “Ouvir o hino nacional no lugar mais alto do pódio foi uma grande alegria”
Foto: Amaro Teixeira (DR)
Legenda: Amaro Teixeira, 35 anos, açoriano radicado na Covilhã há 15 anos, foi campeão do mundo de marcha atlética em masters