O excesso de pontas de tabaco no chão, a necessidade de requalificar e criar mais espaços desportivos, instalar bebedouros de água, ter uma arquitetura urbana que facilite a mobilidade das pessoas com deficiência, cumprir os horários definidos dos autocarros, ter a piscina finalmente aberta, reparar o equipamento da ponte pedonal, ter mais e passadeiras com maior visibilidade ou mais locais para brincar foram algumas das propostas feitas por cerca de 70 crianças da Escola Básica dos Penedos Altos, que participaram na iniciativa O Bairro Que Sonhamos.
Alunos do 3.º e 4.º anos fizeram uma caminhada pelo bairro, avaliaram o que existe de bom e menos bom e verteram os seus contributos escritos em papel ou desenhados em telas, mostradas à comunidade na quarta-feira, 23. No dia 30 a exposição está na Liga dos Amigos dos Penedos Altos (LAPA), parceira da Coolabora no projeto.
“Participámos para melhorarmos o nosso bairro e espero que nos ouçam. Eu espero que não estejam sempre a mudar os horários dos autocarros e que arranjem o campo desportivo”, manifestou Eduardo Carrolo, de 9 anos.
“Deviam apagar os grafitis e as pessoas com deficiência têm dificuldade em andar pelo bairro”, apontou Maria Inês Silva. Leonor Ribeiro lamentou ter deixado a natação, por a piscina estar fechada há dois anos e achar que está a demorar resolver o problema. A David Santos fez impressão a quantidade de beatas no chão e pede que haja mais sítios para beber água. “E os buracos na ponte”, acrescentou Duarte Silva. Matilde Proença referiu a água que se concentra nas traseiras da escola quando chove, os problemas com os esgotos no estabelecimento escolar, a necessidade de um campo de jogos e Carolina Cunha indicou as lajes partidas, que devem ser substituídas.
“Esperamos que as nossas ideias sejam implementadas. Há coisas que todos podemos tratar, outras têm de ser os políticos”, salientou Vasco Tavares.
Graça Rojão, diretora-executiva da Coolabora, destacou a importância da iniciativa “do ponto de vista da educação para a cidadania, para a participação cívica”. “O que fizemos foi ver as coisas na perspetiva das crianças, mas também é uma forma de, através da ação, elas perceberem que têm algo a dizer sobre os espaços que habitam”, acrescentou.
“É importante que as crianças perceberem que as suas opiniões contam e que são valiosas. Queremos também que a comunidade as reconheça como interlocutoras e queremos conseguir implementar algumas das ações que foram propostas”, frisou Graça Rojão, da Coolabora, que já fez o mesmo na Escola de Santo António, no âmbito do projeto Nós Vamos.
Para a professora Aida Fazendeiro a ação foi importante para a comunidade escolar “dar uma volta pelo bairro e ver com olhos de ver o que normalmente não chama tanto a atenção”. As pinturas apresentadas “representam a vontade destas crianças sobre como melhorar o bairro”. Fernando Batista, também docente, considerou a iniciativa “uma oportunidade de os alunos apresentarem as suas reivindicações” e participarem no desenvolvimento do bairro.
“É um exercício de olharem para a realidade que os cerca, para o bom, para o menos bom, e perceberem que, mesmo crianças, devem ter uma voz ativa. Devem ser ouvidas, serem cidadãs”, acentuou José Duarte, dirigente da LAPA, que saudou a possibilidade de “porventura sonharem mais ainda”.
Foi o que fizeram alguns, que gostariam de ter no bairro cherovias com sabor a pastilha elástica, um escorrega que projeta chocolates, um parque desportivo na escola, um carro de algodão doce ou um robot que acabe com a diabetes.