Alexandrina Alves
Dirigente da Liga Operária Católica
Fosse manhã cedo para o turno da 6:00, ou de tarde para o turno da noite, que terminava às 22:00, fosse de Verão ou de Inverno, no tempo de calor ou de frio, com sol ou com chuva, foram décadas a pé, por velhos caminhos, hora e meia para cada lado. Vínhamos do Paul, das Cortes e a maioria da Erada para a célebre Penteadora de Unhais da Serra onde, somando às 8 horas de trabalho em pé na fábrica, quase três horas de caminhada, e os caminhos da Penteadora marcaram gerações.
Estava a terminar a década dos anos 60. O problema dos transportes já tinha sido levantado alguns anos antes no jornal Juventude Operária, mas continuava sem resposta. Todos sentiam que a situação era injusta e os militantes da Juventude Operária Católica (JOC) e da Liga Operária Católica (LOC), jovens e adultos a trabalhar naquela fábrica, tinham consciência do esforço que diariamente era exigido e que era preciso encontrar uma resposta.
Com essa determinação, nas reuniões de militantes, e segundo o método próprio dos movimentos operários da Acção Católica (Ver, Julgar e Agir), procuraram aprofundar as causa e consequências do problema acreditando que era possível uma solução para as longas caminhadas. E com esse desencadear de ações, que passaram também por diálogos com a administração da fábrica e negociações com a Auto Transportes do Fundão, finalmente os autocarros começaram a transportar diariamente as operárias e operários das aldeias vizinhas para a fábrica e da fábrica para casa.
Era o primeiro dos anos 70! A Empresa haveria de reconhecer depois que a solução do transporte melhorou a produtividade.
E foi esse espírito que animou e anima os militantes operários cristãos noutros processos nos quais estava – e está – em causa a dignidade e os direitos dos trabalhadores, sem ignorar o futuro da empresa.
Na Penteadora de Unhais da Serra foram marcantes outros processos de luta dos trabalhadores. Nomeadamente a greve de 1969, na qual os militantes da JOC e da LOC (incluindo a autora deste testemunho), tiveram um papel dinamizador determinante, num tempo em que a greve era proibida e a PIDE vigiava e perseguia mesmo operários que apenas reclamavam a dignidade e os direitos dos trabalhadores, como foi naquele tempo em que a empresa exigia que passássemos de 400 para 800 fusos, o que era humanamente inaceitável.
Nos dias 7 e 8 de Junho realiza-se o XIX Congresso Nacional da LOC/Movimento de Trabalhadores Cristãos. Este movimento de dimensão internacional, tal como a JOC a completar 90 anos no nosso país, tem uma longa história de vida e acção transformadora, especialmente no mundo do trabalho. Também por isso o mês de Maio é sempre um tempo especial de reflexão e compromisso. Mas falar disso não caberia neste texto testemunho.