AS DIFERENÇAS

Nenhum dos partidos concorrentes às legislativas, e sobretudo os representantes dos pioneiros da adesão, souberam trazer para o espaço público, a discussão sobre o momento da Europa

“Em primeiro lugar desafio para Portugal, pois não ignoramos de modo algum as nossas fraquezas nem as nossas actuais dificuldades. Desafio também para a Europa, pois, ao bater-lhe à porta, sentimos que exprimimos a dimensão europeia das mudanças políticas e sociais ocorridas ou em curso no Sul da Europa”

Trata-se de um excerto da mensagem do pedido de adesão de Portugal à CEE, feita por Mário Soares, primeiro-ministro do IX Governo Constitucional. Estávamos a 11 de Março de 1977, e nessa alocução, Soares reforçava a ideia do desafio face às dificuldades e fraquezas evidentes na construção de um país a desenvolver. A concretização da entrada de Portugal e também da Espanha, deu-se a 12 de Junho de 1985. Nessa data, os dois países ibéricos tornaram-se membros de facto, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Em Lisboa, nos Jerónimos, Mário Soares, Rui Machete, Jaime Gama e Ernâni Lopes, membros de um governo de coligação PS/PSD, assinaram o tratado de adesão.

Talvez os mais distraídos, e naturalmente os mais novos não se tenham apercebido do que acabaram de ler. Eu torno a escrever; “governo de coligação PS/PSD”. É verdade, os dois grandes opositores na campanha eleitoral que hoje decorre, e adversários ferozes, estavam juntos há 40 anos, e foram artífices de um processo visionário, fundamental, olhando para um futuro de progresso e de modernidade, abrindo reconhecidas perspectivas de desenvolvimento. A óbvia e até aquela data inacessível Europa, um vasto portefólio de possibilidades de que Portugal tomaria parte, e que hoje parece um dado tão adquirido, e do mesmo modo para os actuais intervenientes políticos, pouco valorizado. Vejamos. O grande centrão político desfez-se, os caminhos afastaram-se, e há até quem – e são muitos – afirme a pés juntos que uns são de direita e outros de esquerda. Quem jure que uns insistem na busca permanente do injusto capitalismo, e outros na utopia do socialismo. Sendo que para ambas as correntes, a cooperação e solidariedade aparentem ser valores- matriz da construção social, tão patentes na fundação europeia. Na última sexta-feira 9 de Maio, sensivelmente a meio da campanha eleitoral para as legislativas, comemorou-se o Dia da Europa, data que assinala a Declaração Schuman feita em 1950 por David Schuman, Ministro francês dos Negócios Estrangeiros, e que ficou registada como o lançamento para as bases da cooperação europeia. Nenhum dos partidos concorrentes às legislativas, e sobretudo os representantes dos pioneiros da adesão, souberam trazer para o espaço público, a discussão sobre o momento da Europa, ou pelo menos, os ganhos e perdas da nossa parceria estratégica com a União. Todos fizeram tábula rasa do significado de sermos europeus, e o que essa condição significa na adversa conjuntura mundial. Não! Preferiram discutir as mesmas “merdices” que há semanas, mesmo meses, andam a valorizar, e que realmente não são mais do que os seus egos. Volto nesta nota a escrever os nomes de quem representou Portugal em 1985. Mário Soares, Rui Machete, Jaime Gama e Ernâni Lopes. Para que se perceba a dimensão das diferenças. Quarenta anos depois da adesão.

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