Cuidar de um animal de rua é ter sempre o coração nas mãos. O medo de que algum dos animais que tentamos proteger com tanto cuidado tenha sido atropelado ou envenenado, como tantas vezes acontece.
Os canis estão cheios de animais, não têm condições nem espaço para todos e, muitos, mal os promovem para adoção. As chances de serem adotados são poucas ou nenhumas. Na nossa cidade a postura começa a mudar aos poucos, mas, dado o atraso de anos de inércia, a mudança acaba por ser ainda pouco significativa.
Lá vão usando verbas para castrar gatos de rua, mas os cães continuam esquecidos, porque a lei portuguesa não permite castrar um cão e devolver à rua, como acontece com os gatos, e daí surgem depois as matilhas, com os problemas que daí derivam, na sua luta pela sobrevivência. Castrar cadelas de rua é algo que a lei portuguesa deve e precisa mudar com urgência. Mas, infelizmente, a lei continua a deixar os cães desprotegidos.
O Canil já tem uma página para a promoção de adoções, mas ainda com pouca relevância, comparada com o trabalho que é feito por particulares e pelas associações sem fins lucrativos, que se desdobram em dívidas e em fazer magia para receber “mais um”, mesmo quando já haviam dito que não podiam receber mais. A falta de espaço para os colocar e as contas nos veterinários são sempre o pior dos problemas, porque comida vão arranjando com as campanhas do banco alimentar solidário.
Muitas pessoas querem que as associações ajudem, recolham, cuidem, mas poucos despendem de alguns euros do seu orçamento para ajudar estas mesmas pessoas a quem tantas obrigações atribuem. E com anos em que pouco ou nada foi feito por quem de direito, o Estado, neste momento, só com a ajuda de todos se pode resolver um problema tão grave. Campanhas de sensibilização da população para ajudar a combater o excesso de animais é de extrema necessidade e importância, porque o número de animais para adoção é muito superior ao número de bons adotantes.
Ao adotar temos de ter a certeza de que podemos responder financeiramente às responsabilidades de ter um animal: chipar, vacinar e castrar em idade adequada. Só assim se consegue controlar a população e evitar o abandono, muitas vezes fruto de más adoções.
As associações são criticadas pelo excesso de zelo de uma adoção, e fazem muito bem em ter regras e obrigatoriedades para dar esses animais. Se assim não fosse, para quê tirar da rua, gastar dinheiro e depois dar sem critério a qualquer um para o animal acabar atropelado na rua, ou preso no fundo de um quintal à chuva, fome e frio e, no caso das fêmeas, a procriar em cada cio?
Enquanto ouvimos falar de que na maioria dos países desenvolvidos ter um animal é um luxo e têm de pagar para poder ter um destes amiguinhos de 4 patas, em Portugal pouco ou nada se tem evoluído. Os maus tratos continuam sem serem punidos por lei, os abates (já proibidos) aumentaram. Só no ano passado 8%. Segundo o relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas foram abatidos 2364 animais.
Isto no mesmo país onde se continua a gastar dinheiro dos contribuintes no apoio às touradas.
Devemos aplicar as verbas no bem-estar em vez da tortura, sensibilizar, controlar a população e educar a sociedade para o papel de todos os seres que connosco partilham o planeta. O caminho é longo, mas se todos fizermos a nossa parte, podemos vir a ter uma sociedade mais justa e civilizada para todos.
Amem os animais, adotem com responsabilidade e respeitem e ajudem, sempre que possam. Os cidadãos em vosso redor que abdicam do seu tempo e dinheiro para ajudar e dar voz aos mais frágeis, aqueles que sozinhos não conseguem pedir ajuda, comida para eles e para as suas crias, não se conseguem queixar do frio nem do calor extremos e que se não forem ajudados por todos nós, só existem para sofrer. A sociedade é de todos e todos merecem igual respeito.