Belmonte: feira medieval agradou mais este ano

No ano passado, houve muitas queixas dos feirantes, por haver zonas pagas e gratuitas, o que não aconteceu este ano. Afluência de público foi maior, mesmo com entradas pagas. Mas mais animação de rua ainda é pedida. Tal como em 2022, o último dia ficou marcado pelos fogos na região

A Belmonte Medieval é já “um marco nacional nas feiras que existem no País” e uma iniciativa importante para a economia local. “Fica bastante dinheiro em Belmonte, todos os anos, o que acho importante quer para as pessoas de cá, quer para quem cá vem”. Quem o diz é o presidente da Câmara, António Dias Rocha, daquela que foi a última feira na qual esteve à frente da autarquia. Nesta 20ª edição, o certame teve entradas pagas, em todo o lado (e não apenas em parte do Centro Histórico, como no ano passado), uma opção que, segundo os feirantes ouvidos pelo NC, se revelou acertada.

De facto, no ano passado houve quem se queixasse de haver zonas pagas que contaram com pouca animação, e outras, gratuitas, que tiveram mais. E que, por isso, reclamava igualdade de tratamento. Este ano, com o fecho integral da zona do castelo, foi igual para todos. Mauro Neves, padeiro e pasteleiro, que vendeu pastéis de nata, bolas de Berlim e pães com chouriço, salienta que a animação pode melhorar, embora frise que, ao contrário do ano passado, o facto de ser igual para todos melhorou o certame. “Está melhor em tudo. Há mais pessoas, mais selecionadas. Sendo a pagar, houve gente que já não veio, mas isso acabou por selecionar público. Também há mais negócio. A animação, já no ano passado falhou e este ano também, embora haja uma ligeira melhoria”, frisa. Quem quisesse entrar nos quatro dias do certame (entre quinta-feira e domingo) pagava seis euros, e a entrada diária, custava dois. Uma aposta da organização, a cargo da Câmara e Empresa Municipal, que é para manter. “Se queremos ter mais qualidade na feira, as pessoas têm que se habituar a suportar alguns dos custos destas iniciativas. Mas os preços são bastante acessíveis. É o meu último mandato, mas espero que a feira se mantenha, não por mais 20, mas por 200 anos” salienta Dias Rocha.

Durante os primeiros três dias, a afluência de público foi grande, superior ao ano passado. Pelo menos, foi essa a sensação com que ficaram alguns feirantes, que estiveram em menor número. “Há muita gente, mas aqui nesta zona (Pelourinho) houve pouca animação de rua, e a que houve, foram espetáculos repetidos. Era bom que pudéssemos ter a oportunidade de ver os que havia lá para cima (zona do Castelo)” afirma Catarina Almeida, belmontense, 42 anos, que vende artigos de bijuteria e participa pela segunda vez. Já Olga Costa, 60 anos, professora, que traz artigos de madeira, com desenho em pirogravura, que faz por hobby, afirma que estas iniciativas servem para fortalecer as relações entre as pessoas e, apesar de ser já a sua terceira presença consecutiva, garante que cada ano é “uma experiência nova”.  “Temos que agradecer a quem nos dá essa possibilidade. Este ano, acho que apesar da feira ser paga, estou a ver muita gente a entrar.  Se compram ou não, isso é outro assunto. Mas sai sempre alguma coisa. Só o facto de estar, dialogar, e mostrar o que faço, para mim já é grato”, assegura.

De Avanca veio Diogo Marcelino, 34 anos, vender artigos em couro, que ele próprio produz. Apesar do calor a que não está habituado, garante que a opção de vir a Belmonte, pela primeira vez, foi acertada. “Acho fantástica a feira, o ambiente é espetacular, o único inconveniente é o calor, quase insuportável. Tirando isso, uma feira muito boa, com pessoal deslumbrante, acolhedor, e que vale a pena toda a gente vir experimentar. Tem uma magia característica, muito própria” salienta. No que diz respeito a vendas, “não me posso queixar. Não é a melhor feira do mundo, nesse capítulo, mas tenho vendido o suficiente.” Por isso, voltar é desejo. “Se me derem oportunidade, é uma feira para repetir durante muitos anos” garante.

Esperança da Glória, covilhanense, de 82 anos, que ainda produz artigos em tecido, bordados e rendas, participa no certame há 20 anos, ou seja, desde a primeira edição. “Desde o primeiro que venho. Este ano, talvez devido ao calor, tem havido menos pessoas, em especial durante o dia. Os incêndios também acabaram por mexer” afirma, orgulhosa de ser ela ainda a fazer “tudo à mão”. Quanto ao negócio, “acabo sempre por vender alguma coisa, porque as pessoas já me conhecem e até há quem venha a pensar que eu cá estou” explica a artesã que o é por hobby “e por gosto”.

Durante quatro dias, a animação de rua, os espetáculos medievais, os comes e bebes, e o artesanato atraíram muitos forasteiros, embora no domingo, face aos incêndios florestais que se registavam nos concelhos vizinhos do Sabugal, Guarda e Covilhã, durante a tarde houvesse menos gente, já que o céu era escuro, o fumo denso e o ar, a certa alturas, quase irrespirável. E foi sob uma autêntica chuva de cinzas que, à noite, o certame fechou com o concerto coral dos The Gift, que atraiu muito público ao castelo. A vocalista, Sónia Tavares, não deixou de lembrar o cenário que se vivia ali em volta e, na sua página, recordou a noite naquele monumento.  “Rodeados por cinza que não parava de cair, do fumo que teimava pairar e do medo do laranja forte do fogo ao fundo. A música curou-nos a tristeza que pairava em todos. Casa cheia, que escolheu a música para sarar feridas. Obrigado Belmonte” escreveu a líder da banda pop de Alcobaça.

 

 

 

 

 

 

 

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