Sexta-feira ao fim da tarde. Dezanove horas, por aí. Uma cuidadora num lar de terceira idade tentava a todo o custo contratar uma ambulância para transportar uma idosa para o hospital. Não se tratava de uma emergência absoluta, nada parece muito urgente numa pessoa com quase 90 anos que
regularmente é internada. Parece o entendimento geral. Sobretudo quando o seu estado de saúde há muito apresenta debilidades. Seja como for, no local onde reside e é acompanhada, entendeu-se mais uma vez que deveria dar entrada na unidade hospitalar porque o quadro da senhora se agravara. Era forçoso encaminhá-la para o São José, em Lisboa. Sim, isto passou-se na capital deste país. O tal país. As chamadas que começaram por ser realizadas para brigadas de bombeiros, rapidamente passaram a entidades privadas de transportes de doentes. Era necessária uma ambulância. E as respostas do outro lado da linha, ou eram mudas, porque os telefones estavam constantemente impedidos, ou entoavam diversas formas de não. Ora porque não temos nenhuma disponível, ora porque neste momento estamos sem pessoal, ora por isto, ora por aquilo. Duas horas depois, após dezenas de tentativas, a exasperada e preocupada acompanhante da idosa, lá conseguiu um sim. Cerca de uma hora depois a ambulância chegou, e a diligente trabalhadora queixou-se aos transportadores, referindo as dificuldades que teve para conseguir alguém para transportar a doente.
A resposta pareceu elucidativa, de duvidosa clareza, e do mesmo modo preocupante; – “… sabe, em dias de jogo do Benfica é assim!”, “ assim… assim como!? ” , pensou a responsável do lar que primeiramente terá entendido que por alguma necessidade que lhe escapara, haveria muitas ambulâncias deslocadas para o Estádio da Luz. Não, nada disso… o que acontece, como tratou de “bufar” um dos responsáveis pelo transporte, é que a malta não atende, ou percebendo que não é muito urgente, deixam-se estar a ver a bola na televisão. Lá está, o que haverá de mais importante naquele momento!? Como? Pergunto eu que ainda não estou num lar, e também não estava a assistir ao jogo. No entanto estou certo que para muitos dos mais fanáticos adeptos do clube, este episódio só demonstra a grandeza da instituição da águia.
Pois… para remate, posso descansar os mais preocupados com o estado de saúde da senhora que, à hora que faço este relato – três dias depois – ela já teve alta, depreendo que para o regresso tenha sido mais fácil assegurar o transporte, a não ser que a forma como terminou o jogo, tenha provocado problemas gastro-intestinais nos aficionados transportadores. Bom… certo é que provocou as mais diversas reacçóes de desagrado nos sete candidatos às eleições para a presidência do clube, que um a um se proclamam o bombeiro que vai tomar conta da urgência.