“Potencialidades da Covilhã devem fazer dela a capital da Beira Interior”

Carlos Martins, 63 anos, consultor, lidera o movimento “Pelas Pessoas” na candidatura à Câmara da Covilhã. Garante não se rever na atual gestão camarária, bem como no atual PS, e que há muito por fazer nos próximos anos

Ao longo dos anos já foi várias vezes apontado como candidato à Câmara, sem nunca se concretizar. Porque o é desta vez?

É verdade que em 2013 estive para ser o candidato. Fui escolhido na comissão política. Não aceitei por várias razões. Candidatei-me à União de Freguesias Covilhã/Canhoso e depois houve pessoas que fizeram pressão para que fosse número dois de uma lista liderada pelo atual presidente de Câmara. Não fui ingrato. Fui militante do partido durante 50 anos, renunciei ao mandato na União de Freguesias, desisti da minha empresa e fui número dois. Com o desejo que o PS tivesse maioria absoluta. Se a tivesse, nunca assumiria o lugar de vereador. Porque conheço o presidente da Câmara há muitos anos, e nunca lhe reconheci capacidade de mobilização e de trabalho. Sou agora candidato, como independente, anunciei a candidatura no beco onde nasci, sou o mais novo de oito irmãos, de uma família humilde e honrada. Temos o mesmo número de candidaturas às freguesias que o partido que lidera o município, apoiamos cinco independentes, porque são bons presidentes. Se assumirmos a autarquia, uma das primeiras reuniões será com as freguesias, para fazer levantamento e apoiar os lesados dos incêndios deste ano. Elogiar os bombeiros, mas o comandante nunca poderá ser o responsável da proteção civil municipal. A prevenção e o combate são distintos. E há responsáveis que estão sempre de férias no mês de agosto…

Então porque assumiu estar com Vítor Pereira se tinha essa opinião dele, e opiniões diferentes?

Havia sim, durante a campanha e logo na primeira semana de gestão camarária. Numa primeira reunião da CIM, que estava na Covilhã, o presidente foi o principal responsável por esta ir para a Guarda, para encher o seu ego como presidente da mesma.

Ou seja, nunca se reviu nas políticas dele…

Não. Porque havia muito a fazer após 20 anos de gestão de Carlos Pinto. Eu dizia-lhe que era preciso tratar de alguns assuntos e a resposta era sempre “ainda é cedo”. Mudei de estratégia, para a Câmara fazer alguma coisa. Decidi pedir para resolver um ou outro assunto, sentia-me legitimado para isso, e resolvi alguns. Mas senti-me usado, porque assumiu a presidência da CIM e fui eu que tive que transportar a carga toda. Fui administrador da ICOVI, presidente do Parkurbis e ADC, era o bombeiro de serviço. Se algumas das obras estão feitas, é por mim. Por exemplo, no PEDU, se não assumisse eu o assunto, o presidente de Câmara deixava passar os prazos. E graças a isso, com uma empresa em Lisboa, foi possível aprová-lo, e com isso, requalificar a Avenida Frei Heitor Pinto, estrada do Sineiro, requalificar a central de camionagem, reabilitar a antiga PSP, o Teatro Municipal… Se eu não tivesse agido, não o tínhamos, por exemplo. Esta é a verdade. O senhor chefe de gabinete, agora nomeado candidato, que tem muito que se lhe diga, é testemunha disto, tal como o candidato a Penamacor, José Miguel. A dívida à AMCB também foi resolvida por mim. Era astronómica, superior a cinco milhões de euros. Conseguimos um acordo que permitiu a redução de um milhão e 800 mil euros à Câmara da Covilhã. Um bom negócio. Mas acabámos por não cumprir o contrato na íntegra, porque pressupunha o regresso da Covilhã à AMCB, e penso que ainda não voltou.

Há mágoa por não ter sido a escolha do partido pelo qual foi militante tantos anos?

Há já algum tempo que não me identificava com a política do PS, quer a nível nacional, quer local. Um dos responsáveis da queda do PS, e do crescimento do Chega na sociedade, é António Costa. Devia ter-se demitido em 2017, aquando dos fogos que mataram mais de 100 pessoas em Pedrógão. É o Estado o responsável nestas questões. Não o fez, mas fê-lo por uma vírgula. Isso só prova que, infelizmente, a maioria dos políticos só andam nela para se servirem. E alguns também estão na Câmara da Covilhã para se servirem.

O balanço que faz, então, da governação do PS na Câmara não é positivo…

Muito, muito negativo. Com vários defeitos. A começar pela habitação. Vários concelhos deste País tiveram oportunidade de se candidatarem a vários programas, através do PRR, renda acessível ou 1º Direito. Mas a Câmara, mais uma vez, meteu uma ou duas candidaturas. Vemos o Fundão com a construção de dezenas de habitações, e nós podíamos estar com centenas. Para os mais novos, para fixar pessoas. Precisamos de pessoas na nossa terra. A Câmara cometeu erros enormes.

Além da habitação, o que é que seria possível fazer mais para fixar cá pessoas?

Há muito património edificado, antigo, que é da Câmara. E há um programa específico para a recuperação destes imóveis. Para habitação. Não gosto da palavra gueto, mas não se pode mandar os mais desfavorecidos para o Teixoso, Boidobra e Tortosendo. O pobre tem de viver ao lado dos ricos e da classe média.

Para fixar pessoas, o que vai fazer em termos de emprego?

Muito fácil. Ando na vida política há muitos anos, presidente de junta, e a maioria das pessoas que hoje recebemos são migrantes. Mas temos que pensar em alternativas em termos de emprego. Neste momento, o têxtil ainda é líder de mercado, e faço votos que continuem as empresas a laborar, mas temos a nossa universidade. A Câmara, UBI e ULS Cova da Beira têm que ser três irmãos…

Não têm sido?

Não, de maneira nenhuma. Há questões por resolver. Já reuni com a nova reitora e há razões de queixa, como já havia com Mário Raposo. É preciso haver um diálogo permanente com a UBI, mas também com a ULS, onde até vai haver um investimento de 11 milhões de euros.

Um dos problemas identificados tem a ver com a mobilidade, transportes e acessibilidades. Que tem em mente para melhorar?

Alterar completamente o sistema de mobilidade da Covilhã. Tem um rosto, o senhor chefe de gabinete, de um plano de mobilidade que só veio prejudicar os covilhanenses, a vários níveis. Temos transportes sem condições, sem ar condicionado no verão, e que no inverno, já uma senhora me disse, se leva cobertor. Temos que pensar não a quatro anos, mas também para 25 a 40. Defendo transportes públicos municipais e amigos do ambiente. Temos em algumas zonas do país, como Pinhel ou Guimarães, e saúdo esses autarcas.

Ou seja, não concessionar, e a autarquia assumir diretamente os transportes?

Sem dúvida alguma. O passe tem um preço exorbitante. Quem vem de São Jorge da Beira a uma consulta tem que se levantar muito cedo, apanhar o único autocarro que tem, de manhã, caro, e que demora uma hora a chegar à Covilhã. Temos que pensar num transporte mais rápido, para situações mais urgentes, nomeadamente o táxi. O táxi da aldeia tem que servir com meio mais rápido e cómodo para quem vive mais longe da cidade.

As freguesias têm sido maltratadas?

Muito. Por exemplo, não pode uma pessoa vir de longe, de uma aldeia, para tratar de assuntos ao balcão único e voltar para trás, por causa disto ou daquilo. Pelo que faremos uma extensão desse serviço em algumas freguesias. A Câmara tem responsabilidade de ajudar.

Água e saneamento. O resgate, consigo, continua a avançar?

Poderá continuar a avançar, mas vamos dialogar. É preferível que andar num litígio. E depois vemos a Câmara a falar, neste último ano, no resgate da empresa Águas da Serra. E vejo mais de 300 mil euros no site basegov para um escritório de advogados que está a tratar do processo. Quais foram os critérios da sua escolha? O que já fizeram? Estamos a pouco tempo do fim do mandato. Na questão da água há ainda muito por resolver, infelizmente.

A Câmara desresponsabiliza-se desses problemas?

As pessoas que estão na Câmara são incompetentes, irresponsáveis e têm preguiça.

Qual é a Covilhã que idealiza para o futuro?

Temos que apostar forte entre 2025 e 2040. A localização e potencialidades da Covilhã devem fazer dela a capital da Beira Interior. Não vamos desistir da construção de um aeródromo. Posso até adiantar que já vimos locais para esse efeito. Um pavilhão multiusos, do desporto à cultura, e à volta dele um local para a feira de São Tiago, que tem que mudar de sítio. O complexo desportivo é para atividades desportivas. Também queremos construir um complexo de piscinas, em parceria com a UBI, e com a ULS. Pode ajudar na saúde de muita gente.

Uma piscina nova, é isso?

Estão hoje a gastar-se mais de 800 mil euros, nos Penedos Altos, mas se houvesse inteligência e visão, apostava-se num grande complexo de piscinas, cobertas e descobertas. Mas dependerá também da situação financeira do município, que até há pouco tempo era boa, pois não gastavam nada, mas agora andam a asfaltar estradas como a Ribeira de Flandres, uma obra não planeada.

Há mais projetos?

Duas creches, nos parques industriais do Canhoso e Tortosendo. É fundamental. Manter o Colégio das Freiras e reabrir o Bolinha de Neve. São hoje muitas as crianças que não têm vagas. É mesmo necessário, para recebermos mais pessoas. Um investidor, quando vai a uma cidade, uma das primeiras perguntas que faz é saber como está em termos de infraestruturas escolares. Para quem vai trabalhar para essas empresas…

Respeitará o resultado que tiver? Se perder, assume o cargo de vereador?

Só depois dos resultados tomarei uma decisão.

Haver tantas candidaturas é benéfico?

É sempre benéfico. Vivemos num país democrático, que espero se mantenha, apesar do avanço da extrema direita. Com a responsabilidade do PS, que abriu uma autoestrada ao Chega.

Qual será um bom resultado?

Nós somos candidatos para ganhar.

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