“Um homem sorri a bola”

José Fragoso Henriques

“Um homem sorri a morte” é um conto inspirado de José Rodrigues Miguéis a quem tomo emprestado parte do título, e que, no entanto, é modesta homenagem a um escritor de enorme talento e que sorriu aos portugueses, essencialmente aos portugueses espalhados pelo mundo, na procura de vida melhor.

Paolo Rossi, nome, que podia ser de marca fina de vestuário italiano, foi um talentoso jogador que sorria à bola, ao jogo. Determinado, discreto, esquecido, que repentinamente, entrava na sala de baile, a grande área, e sorria ao esférico que magneticamente saltava pelo ar, ou deslizando no relvado, encontrando Rossi, para uma dança, terminando fatalmente no fundo das redes. Que o diga Waldir Peres, triste “goleiro”, como quase todos os goleiros, que a 5 de julho de 1982, em Barcelona, sofreu três golos, três raios de Vulcano, num jogo épico.

O escrete brasileiro que praticou o melhor futebol num Mundial, e talvez a equipa que praticou melhor futebol num Mundial, não tinha o camisola 9, que jogava na Squadra Azurra com o 20, a quem a bola sorria. Algumas vezes, poucas, nos relvados a bola decide sorrir a um jogador e nessa tarde gloriosa os adeptos do futebol vão escutar em toda a semana “A valsinha” de Vinícius de Moraes e Chico Buarque de Hollanda.

Nesses dias, surrealmente fantásticos, casando o sangue latino e a tragédia clássica, um Homem sorri à bola e a vida “pula e avança”. Um sorriso aristocrático, raro, e por isso tão belo e cada um dos apaixonados vai sempre lembrar aquele dia, em que a bola sorriu ao nosso jogador e nós sorrimos à vida.

Rossi, teve uma vida de convívio com os limites, as regras, sinuosas, dos donos do futebol, que não da bola, e com a saúde. Terminou a carreira cedo, aos 31 anos. Foi um fim imerecido sem o tributo devido, na altura e ainda hoje. Rossi, o paradigma do 9, por toda a sageza e elegância, aguarda o reconhecimento, que talvez nunca chegue neste tempo de heróis de PVC, mas que seguramente no Olimpo do Futebol, o florentino jogador recebeu.

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