São, inevitavelmente, os rostos da gestão autárquica no concelho de Belmonte nas últimas três décadas. Mais precisamente, 32 anos. Quando em 1993, António Dias Rocha, na altura candidato do PSD, sucedeu a António Júlio Garcia, autarca que cumpria o seu segundo mandato na Câmara pelo PS, depois da a ter conquistado em 1985 pelo PRD. Dias Rocha, atual autarca, e Amândio Melo, presidente da Assembleia Municipal, despedem-se da política ativa este mês, sabendo no próximo domingo quem será a cara nova à frente da autarquia.
António Dias Rocha, médico de formação, foi eleito presidente de Câmara em Belmonte pela primeira vez em 1993, pelo PSD. No segundo mandato, entre 1997 e 2001, acabou por sair um pouco antes de o terminar, para liderar a Águas do Zêzere e Côa, deixando no “comando” o seu vice-presidente, Amândio Melo. Que nas eleições seguintes viria a candidatar-se à Câmara pelo PS, cumprindo três mandatos seguidos, entre 2001 e 2013, e chegando mesmo a bater, em eleições de 2005, Dias Rocha, que, entretanto, tentara regressar à autarquia como candidato independente. O que acabaria por acontecer em 2013, pelo PS, quando após três mandatos consecutivos, Amândio Melo não se pode recandidatar. Nos últimos 12 anos, Rocha foi presidente de Câmara, e nos últimos quatro, Melo foi o presidente da Assembleia Municipal.
Na última sessão deste órgão, os dois fizeram uma espécie de balanço dos muitos anos de vida política no concelho. Amândio Melo lembrou os seus 38 anos de autarca, em diversos lugares. “Passei por todas as funções, com um orgulho imenso. Fiz tudo para servir as populações. Obviamente, cometi erros, mas nunca para prejudicar intencionalmente alguém. Se o fiz, sem intenção, peço desculpa” disse o presidente da mesa da Assembleia Municipal belmontense, que defendeu, no futuro, “profundas alterações” neste órgão, em termos legislativos, que lhe possam dar mais autonomia, bem como mudanças na eleição do colégio eleitoral. “Penso que este órgão foi dignificado neste mandato” salienta.
Também António Dias Rocha recordou os 48 anos de serviço público, quer como autarca, quer como médico. “Nem tudo o que fiz foi bem feito. Mas foi uma honra e um orgulho tremendo ter sido presidente de Câmara na minha terra. Se algum dia tratei alguém mal, não foi por querer. Foi política” disse. “Fiz o que pude, dei o meu máximo, mas também fiz muitas asneiras” reconhece.
Neste último mandato, o autarca destaca, entre outras, a construção da Praça das Descobertas, a requalificação do edifício dos Paços do Concelho, a construção do Centro Educativo de Caria, ou a requalificação de Centum Cellas, onde foi criado o Centro Interpretativo. Mas Dias Rocha lamenta não ter conseguido finalizar a requalificação da Rua Pedro Álvares Cabral, ter avançado com uma via paralela a esta, recuperar a praia fluvial e os museus, fazer o parque de lazer de Caria, o parque empresarial nesta vila, a pedonal da Ponte de São Sebastião ou pavilhão gimnodesportivo da escola sede do Agrupamento.
“Que Belmonte recupere o seu brilho”
Entre os deputados, a última reunião foi também de balanços e despedidas. Margarida Paiva, do PSD, criticou um executivo teve 12 anos de “inércia” e em que “só se viram flops e festas”, desejando que “Belmonte recupere o seu brilho”. António Cardoso Marques admitiu alguns erros, mas “fizemos oposição construtiva ao longo de quatro anos” e Humberto Barroso, também do PSD, lamentou que não fossem disponibilizados os documentos que eram solicitados. “Os senhores ignoram o povo” acusou. Já Luís António Almeida, do PS, deixou elogios ao trabalho do executivo que, diz, serviu para desenvolver o concelho.
Mariano e André Reis despedem-se
Também na última reunião do executivo houve despedidas. José Mariano, apesar de figurar como quarto numa das listas concorrentes à Câmara, disse deixar a vereação de “consciência tranquila”, que nunca se opôs a projetos que fossem importantes para o concelho. “Mas saio triste porque algumas obras, embora pequeninas, não foram feitas e eram importantes”, disse, dando como exemplo o arranjo do espelho de água da Alameda do Castelo, “a sala de visitas de Belmonte”.
Já André Reis, que participou, de novo, online, desde a Suíça, agradeceu o apoio de Dias Rocha ao longo de um mandato em que “se podia fazer mais”, mas com projetos que não se concretizaram face “a algumas forças de bloqueio”, dando como exemplo a criação das escolas de futebol do Benfica.