Consta que em Cabul dois afegãos, pai e filho, assistiam à emissão da RTP Internacional, quando foram surpreendidos pela informação de que Portugal proibira o uso de burca em todo o território. – Hã?! – Exclamou o talibã!- E agora Ahmad, como vai ser, chama lá a tua irmã! – Fátima! – Apressou-se a gritar o menino, filho de Omar. – A jovem de que não sabemos a idade, porque estava toda coberta, assomou-se à porta, e o pai atirou; – … filha, esquece as férias no Algarbe. E assim foi. Vamos também nós esquecer esta cena de ficção, tal como temos esquecido todas as grandes questões que se colocam à sociedade portuguesa, e que entroncam na óbvia falta de qualidade de vida, porque simplesmente o partido que sustenta o governo de Portugal decidiu alinhar-se com os populistas, extremistas e anti-democráticos, para, fazendo uso do seu poder, mostrar; – afinal quem é que manda aqui?! O país anda há dias a tentar perceber o alcance da proibição, para além claro de mostrar a sua tendência para resvalar para a intolerância e para destapar os tiques de uma direita conservadora e pouco democrática. Ou seja, enfiaram-nos a carapuça, é o que é.
Ora vamos lá mostrar a Montenegro, o que dizia o partido fundado em1974 com a sigla PPD; “Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideais do socialismo e realizam-se na democracia, Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia”. Tal e qual. Compro esta ideia, embora pareça um pequeno exemplo de um ideário saído da acção programática de um partido marxista-leninista. Está escrito na introdução do programa do Partido Popular Democrático fundado por Sá-Carneiro, Pinto Balsemão e Magalhães Mota, e aprovado em congresso nacional com o título A Social-Democracia para Portugal. Há naquele documento de afirmação de valores e de opções fundamentais, variadas passagens de exaltação da social-democracia e do socialismo democrático de que tantos gostam hoje de fazer alarde, mas opto por relevar mais este; “O socialismo democrático é um desafio constante à dedicação e à generosidade dos seus militantes, porque os seus ideais e objectivos estão sujeitos a ameaças sempre novas”.
Lá está. As ameaças estão hoje sentadas mesmo ao lado, e o PSD de Montenegro mandou às malvas o PPD de Balsemão, constituindo-se ele próprio uma ameaça para a Democracia, ao alinhar-se perigosamente com quem não deve. A matriz identitária e ideológica do partido originário e assente nos valores e princípios da social-democracia, tem sido constantemente desvirtuada, não podendo por isso o seu actual líder ousar sequer uma ténue comparação. Não era por certo isto que estava no horizonte dos seus fundadores, quando lançaram as sementes para um partido verdadeiramente democrático. O PPD queria ter sido um partido humanista.
