Guilherme Gigante
“Quo vadis?” é uma expressão latina que significa “para onde vais?”. Agora que a cidade mostrou os seus sinais, esta é uma pergunta legítima (e urgente) perante o mapa político que emergiu das urnas e os desafios que a cidade não pode continuar a ignorar. As eleições autárquicas terminaram, mas o verdadeiro debate começa agora: para onde vai a Covilhã nos próximos quatro anos? Por isso, mais do que celebrar ou lamentar resultados, é tempo de olhar para eles e começar a trabalhar em prol de uma cidade que precisa mesmo de mais futuro.
Antes de continuar, apresento já a minha declaração de interesses. Fui mandatário para a juventude e candidato na lista da coligação +Covilhã (CDS-PP/IL). Esta posição não me impede de fazer uma análise crítica e construtiva do futuro da cidade, mas exige sim que seja transparente sobre o meu envolvimento. Posto isto, vamos lá ao que interessa.
Em fevereiro de 2025, num artigo publicado neste jornal, descrevia a política autárquica como “a forma mais bonita de exercício de poder e serviço à comunidade”. É aqui que os eleitos melhor deveriam conhecer as necessidades locais, mas é também aqui que os eleitores melhor podem escrutinar os projetos políticos. E a qualidade do projeto político que for apresentado à Covilhã será tanto maior quanto a exigência que colocamos nele, e a oposição, onde eu me incluo, tem uma responsabilidade acrescida. Quanto mais apáticos ao longo do mandato, menor será o nosso contributo para uma governação transparente e eficaz – qualidades que não têm pautado a ação municipal nos últimos anos.

Hoje em dia, temos uma cidade que ainda não se reencontrou dos tempos áureos dos lanifícios. O seu principal ativo, a UBI, continua a estar em segundo plano e estamos muito longe de definir uma estratégia ambiciosa de retenção de talento. Somos “Covilhã Cidade Criativa”, mas ainda não afirmámos como capital da arte urbana. Somos a porta de entrada para a Serra da Estrela, mas os turistas continuam a subir e descer sem parar na Covilhã. A cherovia, a cereja e o pêssego poderiam ser verdadeiras marcas locais, mas o investimento nesse campo é escasso. Podíamos reabilitar o centro histórico com habitação acessível, mas o património devoluto acumula-se.
A isto, juntam-se os problemas estruturais antigos: uma rede de mobilidade desajustada, elevadores urbanos que são mais conhecidos pelas avarias do que pela fiabilidade, espaços verdes degradados, infraestruturas desportivas abandonadas ou parques industriais estagnados. Está aqui parte da prova que não temos de inventar a roda. Os desafios são conhecidos. O que tem faltado, e muito, é uma estratégia coerente. Será que é mesmo desta que passamos dos diagnósticos às soluções? Que a Covilhã começa, finalmente, a ser uma cidade “com futuro”?
O ditado diz que “se não os consegues vencer, junta-te a eles”, mas na política, para além de não valer tudo, não nos podemos esquecer de que estamos cá para servir os outros e não para nos servirmos a nós próprios. Não podemos continuar a hipotecar as nossas ideias, causas e preocupações em troca de lugares para a família em empresas municipais, caminhos alcatroados à pressa ou negócios para “ajudar quem me ajuda”.
Se há coisa que esta campanha me confirmou, é que vale mesmo a pena lutar pela Covilhã. Mas lutar pela cidade não significa defender cargos ou interesses egoístas. Significa defender ideias, projetos e comunidades. Significa deixarmos de nos contentar por viver numa “cidade com potencial” e passarmos a exigir que esse potencial se concretize.

