Best, o quinto Beatle

José Fragoso Henriques

Nos jogos de futebol da minha rua, no tempo das ruas e passeios sem carros, eu era um dos melhores jogadores do ludopédio, em palavras de gente, a jogar a bola. A baliza era virtual, como se diz hoje, pois a altura era variável e dependia do tamanho do guarda-redes. Já a largura era definida por uns calhaus, que por hábito, não estavam sossegados. Tínhamos nesses tempos muitas opções para ocupar o tempo, mas inevitavelmente o pontapé na bola e nas canelas era o preferido. As alternativas desvalorizadas eram as corridas em carrinhos de esferas, só possíveis no verão, e as escondidas, que tinham um atractivo extra, as raparigas participavam.

Saudosos tempos, não porque fossem melhores, ou piores, mas porque era um catraio. Eu, e os meus amigos, o Zé do 68, os Torres, eram dois, depois três, eram militantes antecipados da luta contra o inverno demográfico, o Floriano, o nome deu azo a muitas gargalhadas e várias sessões de artes de combate, como se diz hoje, na altura “porrada”. Nada de importante, éramos uns putos, como canta, sim, canta o Carlos do Carmo, “a espera de ser(mos) homens”.

Rapidamente percebi que em todas as ruas havia “outros tantos que eram os melhores da rua”. Nada de importante, pois o melhor, era mesmo “o Quinto Beatle”, embora de Manchester, o George, sim, George “The Best”. Ganhou essa designação após fazer um hat trik no Estádio da Luz em 1966, a poderosa equipa do Benfica, de Eusébio, Coluna, Simões e companhia. O Benfica sofreu os efeitos do génio irlandês, nascido em 1946, pois em 1967, no Estádio do Wembley marcou um dos golos que levaram “Os Diabos Vermelhos “a conquista da Taça dos Campeões Europeus

George, o maior driblador, goleador europeu, foi abençoado pela natureza e aqui, tenho de admitir, pelos deuses com a maior dose possível de talento, irreverência, malandrice, malícia, criatividade que um humano pode ser. Combinava Ulisses e Eneias, na ardileza, na pontaria, criando uma combinação futebolística fatal. Fez parte de uma quadrilha fantástica, George Best, Bobby Charlton, Denis Law. Tudo com nome de vedetas de cinema. E tantas tardes, noites encheram a Europa com relatos épicos de conquistas. Era ainda o tempo da “Senhora Rádio” em que as vozes quentes e claras dos profissionais do relato enchiam as salas de cada casa e os salões dos bares, das coletividades de entusiasmo e de integração num mundo maior. A televisão, em Portugal, a RTP reforçava as horas mágicas.

De George Best muitos disseram frases definitivas, mas todas elas insuficientes para tanto talento. Como aprendemos o génio, tal como o fogo, não estava destinado ao Homem, mas Best um Prometeu dos anos sessenta, roubou-o aos deuses do Olimpo. Nada e ninguém o acorrentava, no relvado e na vida. Foi talvez demasiado. Obrigado, Best.

 

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