Jorge Simões
Eleito na Câmara da Covilhã
Entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, o CDS na Covilhã, já liderado pela nova direção local, recusou a coligação com o PSD e seguiu sozinho, fez a sua escolha. Perante essa decisão unilateral, o PSD recusou ser subalterno num arranjo que já não reconhecia como sério nem representativo.
Não foi a substância programática que abriu a fenda: foi a escolha de liderança e de processo. Numa democracia séria, quem tem cargo público não existe para obedecer à máquina partidária; existe para servir e justificar-se perante quem vota. Quem manda é o povo. O partido é só a máquina.

No Concelho da Covilhã, depois de 12 de outubro de 2025, as urnas confirmaram o óbvio: fragmentada entre PSD, CDS e IL, a direita perdeu peso e falhou a alternativa.
Política séria reclama três pilares: transparência na decisão, honestidade (política e intelectual) na justificação e seriedade na execução. Se a rutura nasce de método, diga-se qual; se nasce de programa, mostrem-se as diferenças — com números, calendário e responsáveis. A clareza não ofende: tutela a confiança pública.
Os factos, porém, mostram outra coisa: candidatura própria sem horizonte programático nítido com um desfecho eloquente — 4.º lugar, 2.535 votos, que ainda assim elege um vereador por uma margem de 27 votos — precisamente a margem que impede o PSD de eleger um segundo vereador. Chamar “vitória” a esta aritmética é forçar a semântica. Mesmo num cenário benévolo, puramente hipotético — retirando 600 votos à IL e 600 votos ao eleitorado fiel de Eduardo Cavaco — restariam ao CDS cerca de 1.300 votos com o suporte tácito do PSD-b, quadros afastados da estrutura formal do PSD e que se posicionaram como extensão operacional da candidatura do CDS, um patamar reminiscente de há décadas. A escolha favoreceu afirmações pessoais de protagonismo, não um projeto comum.
O custo de oportunidade foi triplo: desorientação do eleitorado tradicional do CDS; sobreposição com a Iniciativa Liberal (IL), fragmentando voto e discurso no mesmo espaço político; e erosão da massa crítica eleitoral do PSD, impedindo-o de disputar a maioria com força suficiente.
Na Covilhã, o que aconteceu decorreu de disputas de protagonismo e de método, e politicamente injustificável à luz dos resultados. Se a direita quiser voltar a ser competitiva, terá de trocar agravos por compromisso: programa claro, critérios públicos, escrutínio regular e contas prestadas. Terão que transformar a derrota em vitória, mas mais do que ressurreição, precisam de um renascimento e de liderança política renovada. Transparência, honestidade e seriedade — o resto é ruído.
