Centrais fotovoltaicas a eito

Graça Rojão, Directora Executiva da CooLabora

A transição energética é uma urgência planetária. E, por arrasto, nacional. Não pode, porém, servir de desculpa para mais uma espoliação dos recursos deste território, como vem acontecendo.

As duas mega-centrais fotovoltaicas, Beira e Sophia, que pretendem vir a instalar-se na nossa região configuram um saque. Chamam-lhe energia verde, o que é um eufemismo para camuflar o negrume que será derramado em centenas de hectares deste território.

Segundo os órgãos de comunicação social nacionais, que vão dando conta do que aqui se passa, especialmente aquando dos incêndios ou de outras tragédias, este será um dos maiores investimentos em energia solar alguma vez realizados em Portugal.

Depois dos incêndios estivais anuais, da degradação ecológica provocada por culturas intensivas e eucaliptais, chegam-nos agora as centrais fotovoltaicas, espalhadas a eito, sem planeamento e ignorando os seus reais impactos económicos, ecológicos, agrícolas ou paisagísticos. Estas mega-centrais cobrirão centenas de hectares de solos, afetarão ecossistemas que são reconhecidamente sensíveis e causarão interferências sérias no habitat de muitas espécies — incluindo a humana —, estimando-se uma perda da biodiversidade significativa. São zonas onde o despovoamento se irá intensificar. Ao mar de painéis somam-se a erosão do solo, vedações, quilómetros de linhas de alta tensão e toda a parafernália associada a estes projetos. Centrais desta dimensão provocam aumento das temperaturas, impermeabilizam os solos e degradam um património que não só é importante hoje como será subtraído às gerações futuras.

A instalação das mega-centrais terá um impacto sério na destruição económica de espaços de produção de vida, fazendo tábua rasa dos direitos das pessoas que aqui vivem. Mais uma vez, são os mesmos territórios a ser dilapidados e a verem-se condicionados por toda a infraestruturação conexa a esta maré negra, como as novas linhas de Muito Alta Tensão. Esta artificialização desregrada da paisagem irá torná-la repulsiva. Quem quer viver ou visitar uma paisagem assim?

Questionamos a dimensão das mega-centrais mas também a sua localização em zonas já de si muito sensíveis e a falta de democraticidade destes processos. Há hoje soluções cujos proveitos não servem apenas os investidores nas mega-centrais, mas distribuem os benefícios pela comunidade mais directamente afectada. Há soluções que compatibilizam os objetivos da transição energética com a preservação do território. — Por que não são equacionadas?

É importante apostar em formas mais descentralizadas de produção de energia, em vez dos mega projectos que levantam sempre problemas de escala, como são exemplo as comunidades de energia, beneficiando as pessoas e as regiões afectadas. É também importante procurar outros espaços, como por exemplo na cobertura de edifícios ou em zonas industriais.

Iniciativas como estas, lançadas de cima para baixo, não têm em conta os interesses da comunidade no presente e comprometem o seu futuro. Queremos uma transição energética justa, que respeite o território e quem o habita.

Até 20 de Novembro ainda podemos participar na consulta pública da mega-central Sophia que, pondo em causa grandes áreas dos municípios do Fundão, Penamacor e Idanha-a-Nova.  Pode consultar a documentação e manifestar-se aqui:

https://participa.pt/pt/consulta/a-csf-de-sophia-e-as-lmat-associadas

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