SÍNDROME DE BURNOUT E DILEMAS MORAIS

Cátia Rua Antunes

Psicóloga Clínica

A vida quotidiana é uma sucessão silenciosa de dilemas morais que testam a nossa integridade. Longe dos grandes debates, as verdadeiras provas ocorrem na microescala das nossas decisões, especialmente aquelas ligadas à injustiça e a diferenças de valores. Somos constantemente confrontados com escolhas difíceis entre o que sabemos ser certo, o que nos beneficia, ou prejudica, em termos de desgaste físico e moral. Os dilemas morais são transversais a todos os contextos, laboral, familiar, societário ou mundial e, presenciar um comentário injusto é um dilema imediato que se põe. Uma represália que passa dos limites do razoável de uma figura de liderança, ou algum sinal de assédio moral e abuso de poder, são todas situações que podem contribuir para um ambiente de trabalho mais inseguro e stressor. Para além de criar um desgaste, pode ter um impacto paralisante, na tomada de decisão. O que a mente ignora, o corpo não mente, e revela sob a forma de ansiedade ou pânico. As emoções mais difíceis como a zanga, frustração e o medo, quando no seu auge de intensidade, podem toldar o sentido da razão, e abrir a impulsividade, ao ter uma reação não pensada. Reagir pode trazer um prejuízo a curto prazo, o estigma, o atrito social, ou até a represália profissional.

O silêncio, por outro lado, pode garantir a paz e a progressão na carreira, no entanto, a um custo moral. O desalinhamento com os valores de equidade, justiça e coragem é, frequentemente, um dos fatores desencadeador do síndrome de Burnout. Em 2021, Portugal foi apontado como o país da União Europeia com maior risco de burnout, sendo a sobrecarga de trabalho um fator central. Em 2025, 61% dos portugueses relataram sentir-se esgotados ou em risco de burnout, segundo um inquérito europeu, e cerca de 34,5% dos portugueses experienciaram sintomas como ansiedade, depressão, burnout e pânico, nos últimos doze meses. As causas que apontam para indicadores como a sobrecarga de trabalho, a escassez de reconhecimento e, crucialmente, o desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional. O Burnout não ocorre de um dia para o outro, resulta de um processo de stress crónico quando as exigências profissionais ultrapassam de forma contínua os recursos emocionais, físicos e organizacionais disponíveis do indivíduo. Há que reflectir sobre a dinâmica laboral, e o balanço com a vida pessoal. A intervenção para com o Burnout deve ser cuidada e atenta, tendo em consideração a prevenção e o tratamento. Ao nível organizacional, encontrar mecanismos de deteção e apoio aos trabalhadores (prevenção) e a nível individual (tratamento), o apoio do médico de família, a psicoterapia, a medicação e apoios de reajuste laboral. Existem diversas medidas fundamentais para prevenir e trabalhar o burnout, antes do mesmo acontecer. Detetar os sinais é crucial.

Boa semana e bem-haja!

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