À prova de bala: notas sobre a regulação emocional

Cátia Ruas Antunes

Psicóloga Clínica

São diversas as situações que, no quotidiano de um adolescente, acordam emoções mais disruptivas e desconfortáveis a um nível interno. Refiro-me a situações como o bullying, um castigo de uma mãe, ser excluído pelos amigos, uma relação online fictícia enganosa, ou mesmo o fim de uma relação. É difícil não ser permeável perante os algoritmos das redes sociais, as notícias de violência frequentes na televisão, amplificam generosamente o estado de alerta característico da ansiedade.  A diversidade já não é equivalente à qualidade. Aprender a filtrar começa a ser uma aprendizagem fundamental, nomeadamente, entre crianças e jovens, que não se sabem proteger e ainda    não tiveram oportunidade em capacitar o cérebro de que, nem sempre o que desejam, é saudável e o melhor para eles. A carapaça da experiência e da resiliência, em reconhecer as experiências como nocivas ou protetoras, a necessidade de limites para a discriminação, é uma construção social, bem como a identidade fundamental. Esse filtro de seletividade adquire-se pela regulação emocional, a qual deve ser aprendida e implementada ao longo do desenvolvimento desde cedo.

As estruturas que protegem, as figuras parentais   e os cuidadores, cabe-lhes ensinar as crianças a experimentar as emoções mais primitivas, como o medo e a frustração, saber identificar, dar um nome e revelar estratégias eficazes para desenvolver mecanismos de proteção saudáveis e à prova de bala. Embora, seja musculado pela genética e pela relação parental, ninguém nasce ensinado, e enquanto pais e cuidadores, há sempre algo a aprender, a ler ou trocar impressões com outros pais. Somos todos emoção, e  os desafios de crescer, nos dias incertos de hoje, são exigentes, quer para os adolescentes, quer para os cuidadores. Somos impulsionados pelo sentimento de injustiça, desejos e medos, e deslumbrados pela novidade. Somos humanos. A fervura de estar magoado precisa sossegar, até ser tolerável, para ver as coisas como elas são. Quando a incerteza se instala, pode criar um nevoeiro mental que distorce a própria razão. Como aprender a regular as emoções mais difíceis? Será que podemos pensar em estratégias? Ser “à prova de bala”, no geral passa por treinar o músculo do pensamento e elaborar a capacidade de resposta. Pensar o pensamento. Deixar de parte o “Agir sem Pensar” (Emoção-Acção). Interpretar as emoções e os desconfortos, como um sinal a não negligenciar. Pode ser medo da exposição em público, ou simplesmente de ter um desempenho que não esteja ajustado com as expectativas, ou a ideia de não ser suficientemente bom para ser amado pelos outros. E se aprendermos a pensar o desconforto? E trabalhar esse mesmo desconforto, fazer a nossa parte. Ganhar perspectiva: “Subir a montanha”, permitir distanciar, observarmo-nos de fora, e ver a big picture, a totalidade da situação, como observador. “Temos de sair da ilha para ver a ilha” (Saramago).

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