Dino Zoff, o “Portieri” tranquilo

José Fragoso Henriques

Nos tempos que vivemos, faz alguns anos, bastantes, os dias são obrigatoriamente, não se sabendo que Deus o decidiu, retomo, os dias são obrigatoriamente fluorescentes, radioactivos. O Concorde já não rasga os céus entre Paris e New York, mas os dias, e as pessoas nos dias e os dias das pessoas devem ser ruidosos ou rápidos, cheios. Nem que seja de nada! Os jogos de futebol, e naturalmente os jogadores, satisfazem esta condição. Sempre a jogarem, sempre a serem comentados, muito mais pelas suas vidas de pop star do que pelo talento, arte e combate do futebol que praticam.

Dino Zoff, o primeiro italiano a ser campeão europeu e campeão mundial de futebol, era um guardião longo e sólido, discreto e tranquilo. Um “signori” no campo e um rei na zona de baliza. Bateu records, de jogos seguidos na Juventus, apenas 330 jogos, mais de um milhar de minutos sem sofrer golos. Claro, que as linhas defensivas das equipas em que jogou, destaque para a Juventus e para a Squadra Azurra, muito contribuíam para esse desempenho, mas a sua tranquilidade, serenidade e agilidade contribuíam muito para o triunfo das suas equipas. E como o triunfo é romano. Por vezes tardio, mas muito provável desde que metodicamente perseguido. E assim foi com Dino Zoff. Verão de 1982, num dos mais dramáticos, operático, campeonatos do mundo a que assisti, Zoff resgata do golo um remate de Óscar, excelente zagueiro brasileiro, nos últimos minutos, nos quartos de final disputado em Sarriá, Barcelona. Se Rossi foi o tenor, Zoff foi o baixo que assegurou a vitória perante a melhor selecção brasileira de sempre e provavelmente a melhor selecção de futebol de todos os tempos e em todos os tempos, considerando    os que estão por acontecer.

Na Squadra Azurra, o treinador, Enzo Bearzot, um Luchino Visconti, um “registá” aristocrático, teimoso e disciplinador que manteve a sua aposta, para lá da contestação, voraz e cega, num grupo de jogadores que provaram ser uma enorme equipa. Capitaneados por Zoff, batalhavam Scirea, Gentille, Cabrini, Tardelli, o mago Antognoni, Altobelli e o renascentista Paolo Rossi. Uma squadra que parecia ser um documentário cultural da antiga BBC, lembrando a arquitectura e pintura renascentista com a paixão e magnetismo das telas de Caravaggio. Foram assim os jogos da Squadra Azurra após a fase de apuramento, emocionantes, belos e dramáticos. A final no Santiago Bernabéu, uma réplica moderna do Scalla, será eternamente recordada pelos festejos de Sandro Pertini, Presidente, da sempre agitada Itália, festejando efusivamente a vitória. Ele Pertini, herói antifascista, “partisano” na segunda guerra mundial. Mas foi Zoff, Dino, um nome tão italiano, homem de quarenta anos nascido em Mariana Del Friulli, no norte de Itália, próximo do Adriático, um mar apenas europeu, que recebeu a Taça de Campeão Mundial.  O “Portieri Dino Zoff” ergueu a Taça Jules Rimet, uma taça mítica, como um Homem Tranquilo, digno de um filme de John Ford, para serenar tanta emoção.

 

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