Cátia Ruas Antunes
Psicóloga Clínica
A pressão para ser um “bom pai” ou uma “boa mãe” nunca foi tão intensa, e se por um lado, se notam cada vez mais comportamentos desregulados emocionalmente entre famílias, há igualmente uma maior consciência da parentalidade informada, cujo o intuito é proteger, estruturar e sedimentar autonomia e responsabilidade, nas adversidades da vida. Hoje especialmente, é muito exigente ser-se mãe e pai, pois o paradigma mudou, e se por um lado, a parentalidade, parece exigir um arcabouço invisível, espelhado pelo medo de falhar, pela necessidade de validação social e pela crença profundamente enraizada de que, o sucesso e a felicidade dos filhos são um reflexo direto da competência parental, por outro lado, também os desafios psiquiátricos que têm vindo a emergir, são uma outra preocupação fundamental que transcende as questões familiares. Com base nestas e outras circunstâncias, nenhum pai ou mãe, sabe ao certo, o limite do comportamento do filho, ou a profundidade das intempéries do mundo interno de cada criança. As novas premissas da parentalidade consciente podem ganhar, no entanto, uma nova profundidade no investimento nas interações parentais de qualidade. Passam pela conexão, e só depois correção/estruturação.

Quando um filho não se revela “perfeito”, seja académica, social ou emocionalmente, a reação imediata de um pai ou mãe muitas vezes, não é de empatia e curiosidade, mas de medo, ansiedade e frustração. Isto acontece porque a falha do filho é sentida como uma falha do cuidador. Vertemos culpabilização e perdemos o ponto essencial, erro é aprendizagem e crescimento. Queremos sempre ser melhores pais. E os filhos estão nas suas próprias lutas internas da Identidade e da Individuação, do: quem sou eu, quem são os meus amigos, em que é que sou bom, e o que faço com isto tudo que estou a sentir. A pedra angular da parentalidade consciente reside na aceitação incondicional da criança, significa libertar-se de um ideal predefinido. Educar laços parentais, é difícil, e passa por investir na interacção, na curiosidade pelos interesses, validar o que sentem, conectar, criar tempo de qualidade, entrar no mundo deles e notar as entrelinhas do que efectivamente precisam e é saudável para eles. Tentar ver pelos olhos deles. As crianças precisam da nossa conexão e estrutura, afecto e regras com consistência, para se sentirem seguras. A parentalidade consciente é um convite para abraçar a jornada “imperfeita” da vida familiar e reconhecer que o maior respeito que se pode ter por um filho é a de criar espaço para este ser, um ser humano em constante desenvolvimento, completo com todas as suas maravilhosas e caóticas imperfeições, numa estrutura segura, regrada e consistente. O verdadeiro sucesso parental mede-se não pelo quão bem o filho se enquadra no molde, mas pelo quão plenamente ele se sente validado, aceite e amado exactamente como é.

