Pedro Caldinho, até agora segundo comandante da corporação dos bombeiros do Fundão, é desde o final da passada semana, de forma interina, o comandante, na sequência da demissão do anterior, José Sousa, motivada pelo escândalo de alegados crimes de violação e coação sexual no seio da instituição.
No passado dia 25 de novembro, a Polícia Judiciária (PJ) da Guarda deteve 11 elementos da corporação da Associação Humanitária do Fundão, por suspeitas de violarem um colega de 19 anos, dentro do quartel, mas ouvidos em tribunal, os 11 homens acabaram por sair todos em liberdade, embora com algumas medidas preventivas. Oito deles estão proibidos de entrar no quartel, e três sujeitos a apresentações semanais na GNR.
Segundo a PJ, há suspeitas de terem sido cometidos crimes de violação e coação sexual contra um jovem bombeiro em duas ocasiões distintas, “numa duvidosa praxe”. A investigação acabou por ser despoletada numa queixa efetuada pela própria vítima, suportada e apoiada pelo comando da corporação, que “em todo o momento colaborou com esta polícia”, frisava a PJ em comunicado. Porém, numa primeira instância, o comandante da corporação, José Sousa, chegou a adiantar à Lusa que os bombeiros estavam a ser alvos de um processo de inquérito interno e que não havia “motivo para os suspender”. Posteriormente, em comunicado, a direção da associação reafirmava que depois de abrir, a 17 de setembro, um processo disciplinar interno sobre os factos “alegadamente ocorridos” no dia 6 desse mês, e após “termos comunicado à Polícia Judiciária a intenção de avançarmos internamente, de forma célere, com medidas disciplinares de carácter preventivo e definitivo”, foi a própria PJ que solicitou, no dia 3 de novembro, “a suspensão do procedimento disciplinar instaurado pelo comandante, de modo a garantir a não interferência com a investigação criminal então em curso – pedido que, apenas por esse motivo, foi acolhido.” Após os desenvolvimentos verificados “que tornaram pública a investigação”, a associação disse que cessou o fundamento que justificava a suspensão anteriormente solicitada pela PJ e retomou o processo disciplinar interno, sendo determinada “a suspensão preventiva, com efeitos imediatos, e pelo período máximo legal de 90 dias, dos bombeiros identificados na queixa apresentada pelo queixoso”. A 27 de novembro, o comandante José Sousa demitia-se: “enquanto comandante, sou o primeiro e o último responsável por tudo o que acontece no corpo de bombeiros”, justificava.
Agora, o processo decorre na justiça. Aos 11 suspeitos foi aplicada também a medida de coação de proibição de contactos com os demais arguidos, testemunhas e com a vítima, de quem também não se podem aproximar a uma distância menor do que 500 metros. Segundo despacho do tribunal, todos estarão implicados na alegada violação.
Em termos profissionais, a Associação Humanitária anunciou também um processo disciplinar laboral dos bombeiros no âmbito do qual “serão oportunamente notificadas as notas de culpa e comunicada a eventual intenção de despedimento.” A Associação Humanitária garante ainda “total rigor, imparcialidade e firmeza” para garantir o apuramento “integral da verdade”.

