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NC: um jornal mais que centenário

Manuel R. Felício*

Faz anos o Notícias da Covilhã. Damos-lhe os parabéns.

Na longa vida de 101 anos com o atual título, e mais seis com o de “Democracia”, passou por muitas fases, mais fáceis umas, mais difíceis outras.

As suas páginas são um repositório fiel da vida social da Covilhã e dos covilhanenses, aqui residentes ou espalhados pelo mundo. Por isso, esta cidade pode orgulhar-se do seu jornal centenário.

No estatuto editorial, apresenta-se como imprensa de inspiração cristã. E a primeira consequência é ser independente em relação aos poderes instalados, sejam políticos, económicos ou outros, com os quais quer dialogar e cooperar, sem nunca abdicar dos princípios em que se inspira. Por identidade estatutária, deve obediência única e exclusivamente à verdade conhecida como tal e aos grandes valores que devem marcar o ritmo de vida das pessoas e da sociedade em que se integram.

Por isso, o Notícias da Covilhã, que soube vencer tantas crises – basta dizer que passou por duas guerras mundiais e participou em muitas mudanças no xadrez político e social do nosso país, na nossa cidade e sua região, incluindo os efeitos da emigração massiva de meados do século passado – está hoje mais capaz de vencer os desafios da atualidade. E estes são muitos, como constatamos, sobretudo tendo em conta a gestão e consequências da atual pandemia.

É, por isso, legítimo, em dia de aniversário, solicitar à sociedade covilhanense, na pluralidade das suas instituições e poderes locais, que lhe dê o merecido apoio, dada a notável folha de serviço com que se apresenta. De facto, tem levado bem longe, não só em distância física, mas também na visão e no tratamento das grandes questões locais e de âmbito mais alargado, os verdadeiros interesses dos covilhanenses.

Tradicionalmente muito ligados ao registo em papel, os órgãos de comunicação como este passam hoje por dificuldades acrescidas, que têm a ver com a grande concorrência do virtual.

Se o objetivo é promover o pensar criterioso das pessoas, o papel continua a ter o seu lugar, embora a concorrência da imagem ligada à procura de informação rápida e interativa não facilite o hábito de pensar.

É consensual que uma imagem bem escolhida vale mais do que muitas palavras, mas a verdade é que o crescimento e a maturidade das pessoas, quanto a refletir e decidir as grandes questões, saem prejudicados quando se deixam levar só pelo imediato e o que impressiona, tirando-lhes o valor e a força da reflexão, do pensamento, da decisão criteriosa.

O nosso jornal está para ajudar as pessoas a crescerem como pessoas. E só pode atingir este objetivo na medida em que as instituições locais contam com ele e ele com elas.

Agora, uma última consideração. As pessoas, como as instituições, ganham sempre quando entram em redes de cooperação e os órgãos de comunicação também. São distintos no enquadramento social, distintos nos propósitos que assumem e expressam no seu estatuto editorial, mas ganham todos, ao criarem mecanismos de sustentabilidade partilhada. Isto, nas tecnologias que usam, nas fontes de informação a que acedem e até na partilha dos recursos existentes. É verdade que a competitividade também tem lugar nos órgãos de comunicação, mas tal não deve impedir o aproveitamento de redes de cooperação. E, em tempos de recursos limitados e responsabilidades acrescidas, mais se impõe avançar por aí.

Ao nosso jornal mais que centenário, que passou por muitas mudanças e venceu muitas crises, auguramos, em dia de aniversário, criatividade e inovação para enfrentar com redobrado êxito os tempos novos que aí estão.

*Bispo da Guarda

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