Não era uma situação que imaginasse. Adelaide Figueira, 57 anos, reside em Verdelhos, tem as duas filhas em França e ainda não pôde conhecer a neta nascida no ano passado. Já a viu pelo telemóvel e valem-lhe as tecnologias para mitigar a saudade, mas a pandemia alterou não apenas as dinâmicas na aldeia, agora com as ruas praticamente desertas, mas também o rumo da sua vida. “Qualquer dia só vejo a minha neta quando já andar”, graceja.
Adelaide não quis arriscar ir ao estrangeiro no Natal, este ano “muito diferente”. Entretanto as fronteiras fecharam e os familiares também não puderam vir. O novo coronavírus tem impedido que conheça o mais recente membro da família. “Nunca vimos uma coisa assim”, desabafa, de máscara na mão, à saída do supermercado onde acaba de fazer compras.
A operária brinca por não pintar o cabelo há quatro meses e ainda estranha a quase ausência de movimento na rua, sobretudo aos fins-de-semana, mas o desemprego é a consequência da covid-19 que maior impacto passou a ter nos seus dias, que agora, em casa, a fazer as tarefas diárias, “demoram mais a passar”. Adelaide Figueira trabalhava numa confecção no concelho de Belmonte. Passou por dois meses de “lay-off” durante o primeiro confinamento e, em Novembro, fez parte do grupo de funcionárias dispensadas, devido à redução das encomendas.
Falta de contacto “vai contra a natureza de uma aldeia”
Com os principais espaços de socialização fechados (à data da reportagem) – os cinco cafés da terra – o convívio ficou reduzido ao mínimo. Os residentes de Verdelhos, como aconteceu um pouco por todo o lado, deixaram de sair à rua ou fazem-no pouco. Quem se senta à soleira a aquecer ao sol de Inverno fá-lo sozinho e não só quase não se circula nas ruas como o silêncio impera.
Joaquim Santarém, de 72 anos, e Maria José Tavares, 70, estão junto ao portão de casa, na zona de maior afluência na localidade. Costumam passar uma parte do ano na terra natal e outra em França, onde também têm casa e família. Chegaram a Verdelhos em Março do ano passado e ainda não regressaram. Encontraram “uma aldeia parada” e assim continua.
“Normalmente esta é a zona com mais vida. Agora não se vê quase ninguém. Não temos contacto com as pessoas. Isto vai contra a natureza de uma aldeia”, comenta, no Largo das Festas, Joaquim, que concorda com as medidas implementadas, mas critica quem transita sem cuidados e sem utilizar máscara, como é fácil constatar.
(Reportagem completa na edição papel)