Os trabalhadores da empresa de confecções Dielmar, em Alcains, manifestaram na passada segunda-feira, 9, a intenção de continuar a trabalhar a partir do dia 18, mas precisam de condições, nomeadamente matéria-prima, para as encomendas que ficaram na linha. “Nós temos muito pouco tempo para trabalhar esta situação e no decorrer do processo da insolvência, temos de arranjar soluções para que, efectivamente, a empresa [Dielmar] continue a laborar. Esse é o ponto principal, a empresa não deixar de laborar e continuar a ter todos os postos de trabalho salvaguardados”, disse aos jornalistas Marisa Tavares, do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Baixa.
A sindicalista falava após uma concentração de trabalhadores da Dielmar, convocada pelo seu sindicato, que decorreu junto à Câmara de Castelo Branco, uma semana após o pedido de insolvência desta empresa de confeções, sediada em Alcains, no concelho de Castelo Branco. Os trabalhadores presentes na concentração aprovaram, por unanimidade e aclamação, uma resolução, onde exigem que sejam tomadas todas as medidas de salvaguarda para que no dia 18 de Agosto possam continuar a trabalhar. “Para isso, é necessário que se criem as condições de terem disponível matéria-prima por forma a trabalharem as encomendas que ficaram na linha”, lê-se no documento. Foi ainda decidido que, caso esta situação não seja “de todo possível”, isto é, caso no dia 18, data em que terminam o actual período de férias, não haja matéria-prima para laborar, aceitam prolongar o período de férias até ao final de Agosto, abdicando do gozo no período de Natal. Isto para dar tempo às entidades competentes de trabalharem uma solução “que viabilize a continuidade e salvaguarda dos postos de trabalho”.
Para que esta situação se torne possível, os trabalhadores defendem a necessidade de haver “um real compromisso por parte do Governo”, através do Ministério da Economia, de que “chegam ao final do mês de Agosto e seguintes e terão o seu vencimento disponível”. Marisa Tavares refere que o sindicato falou com quem trabalha diariamente na empresa para ver se, efectivamente, há ou não condições, para no dia 18, voltarem ao local de trabalho. “Aquilo que nos foi transmitido é que há alguns problemas em termos de matéria-prima. Há uma ou outra encomenda que ficou na linha. Então temos de arranjar soluções. Daí esta solução que colocamos aos trabalhadores de poderem prolongar as férias”, para “dar tempo ao Ministério da Economia, para arranjar soluções”, sustenta. A sindicalista realça que as manifestações de interesse na empresa “são positivas” e devem ser analisadas e ponderadas. “O Governo e o administrador da insolvência vão ter uma palavra a dizer. Que seja salvaguardado que os trabalhadores, no final de Agosto, tenham o vencimento disponível. Isto não é inédito. Já aconteceu em outras empresas e também pode acontecer nesta”, conclui.
Antes, o presidente da Câmara de Castelo Branco, José Augusto Alves, garantiu a existência de três contactos portugueses que manifestaram o seu interesse na empresa de confecções Dielmar, afirmando que já partilhou essa informação com o Governo e o administrador da insolvência. “Existem três interessados que manifestaram essa intenção e interesse e a fazer já perguntas. Sinal que está a haver uma grande divulgação da situação que ocorreu e, por sua vez, a marca [Dielmar] é prestigiante e prestigiada não só para o País, mas também para a região de Castelo Branco e para Alcains”, afirmou aos jornalistas.
O pedido de insolvência da Dielmar foi feito no passado dia 2, com o Juízo de Comércio do Fundão, do Tribunal Judicial da Comarca de Castelo Branco, a declarar a insolvência da Sociedade Industrial logo no dia seguinte. A empresa tinha, à data, cerca de 300 trabalhadores.
Fundada em 1965, em Alcains, por quatro alfaiates que uniram os seus conhecimentos, a Dielmar pediu a insolvência ao fim de 56 anos de actividade, uma decisão que a administração atribuiu aos efeitos da pandemia de covid-19.